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Famosos / Quebrando Mitos

Fernando Grostein sobre autoexílio por sofrer ameaças: ''Não pretendo me calar''

Após lançamento do documentário 'Quebrando o Tabu', o cineasta passou a ser alvo de ameaças, que se intensificaram após a eleição de Jair Bolsonaro

Da redação Publicado em 27/10/2022, às 10h47

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Fernando Grostein lançou o documentário 'Quebrando Mitos' - Jivi Oxy, Paulo Macedo e Rafa Levy
Fernando Grostein lançou o documentário 'Quebrando Mitos' - Jivi Oxy, Paulo Macedo e Rafa Levy

Fernando Grostein, irmão do apresentador Luciano Huck, não mora mais no Brasil há um tempo por um motivo: ameaças constantes contra sua vida. Vivendo nos Estados Unidos, o cineasta acaba de lançar o documentário 'Quebrando Mitos', disponível no canal Meteoro Brasil, do YouTube, até o próximo dia 30.

Em entrevista à revista Caras, Fernando afirmou que a produção tem foco na chamada 'masculinidade catastrófica'. "Ilustrando a ascensão de Jair Bolsonaro [PL] como exemplo de o que acontece quando um homem com masculinidade frágil chega a uma posição de poder”, explicou.

O projeto começou a ser desenvolvido há cerca de três anos, quando Grostein e o marido Fernando Siqueira decidiram pelo autoexílio, indo morar em Los Angeles, nos Estados Unidos. Isso porque eles passaram a ser alvos de ameaças constantes por criticar o presidente Jair Bolsonaro. O cineasta chegou a ser coagido nas redes sociais a parar de falar sobre política sob o risco de precisar de um caixão lacrado em seu velório.

'Quebrando Mitos' é a prova de que ele não se calou. Questionado se as perseguições diminuíram após a mudança para os Estados Unidos, Grostein afirmou que não. "Continuo recebendo ameaças, mesmo aqui nos EUA. Não pretendo me calar ou me curvar a fascistas. Todo mundo pode pensar diferente, desde de que não coloque a existência do outro em questão."

Para lidar com a situação, ele e o marido mergulharam na música e formaram a banda FS2. "O Fernando compôs uma música sobre exílio, Califórnia. Ela está no filme. Música, cultura e esporte têm um papel terapêutico em lidar com traumas", disse Grostein.

"A música ajudou a limpar nosso sistema depois de fazer esse filme. Depois de diárias exaustivas de edição, me sentava ao piano e compunha ao lado do Fê, que me direcionava. Vamos lançar um álbum no primeiro semestre do ano que vem e pretendemos fazer shows. Já temos 13 músicas quase prontas", acrescentou Siqueira.

MASCULINIDADE CATASTRÓFICA

O termo surgiu ao longo da produção do documentário. "Masculinidade tóxica não nos pareceu suficiente para explicar a masculinidade de homens como Jair Bolsonaro, pois se refere a um homem que causa dano a um indivíduo para benefício próprio, como um cara com as pernas abertas no ônibus lotado. A masculinidade catastrófica é a expansão disso para uma escala maior, trazendo danos a uma sociedade, um país e, no caso do Presidente do Brasil, pela destruição da Amazônia, o planeta inteiro", explicou Fernando.

Ele revelou que só entendeu a questão com mais profundidade durante o desenvolvimento do documentário. "Liguei os pontos e percebi como a questão da masculinidade atravessa desde a questão LGBTQ até a questão do meio ambiente. Muitos homens se sentem ameaçados, acham que ao questionar a concentração de poder, estamos atacando. Na verdade, a mensagem é: vamos dividir o poder, a diversidade favorece a inteligência coletiva. Todos temos pontos cegos, se as decisões da sociedade (ou do planeta) são tomadas pelos mesmos tipos de pessoa, perdemos ao não enxergar soluções que os pontos cegos delas não alcançam."

O DOCUMENTÁRIO

Grostein chegou a ter um colapso nervoso durante a realização do filme. De acordo com ele, o gatilho foi justamente o material de pesquisa ser "muito pesado". "Foram horas de depoimentos de abusos, estupros, violência, suicídio, falas mentirosas, sangue e chacinas. Para quem se preocupa com meio ambiente, para quem é LGBTQ, ou simplesmente para quem é aliado na luta antirracismo, é muito difícil [...] foi um mergulho nas trevas. Me senti esgotado, não conseguia assistir a nenhum filme, tudo era gatilho, não conseguia sair de casa direito, ir a lugares barulhentos, enfim. Estava apagado."

Segundo Siqueira, o filme foi bem recebido por todas as gerações. "Isso vem também por causa da diversidade na equipe. Percebemos que ele fala de forma mais direta com os LGBTQs e que alguns homens heterossexuais se incomodam além da conta. Quando fazemos uma crítica aos homens heterossexuais, não falamos de todos. Claro que existem milhares de exceções e aliados importantes. Estamos falando do coletivo. E pedindo: por favor, melhorem."