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Opinião: Valeu a pena esperar 'Um Lugar ao Sol'? Estreia fugiu do comum

Estreia de 'Um Lugar ao Sol' é marcada por ótimas atuações e texto rebuscado

*Ives Ferro, repórter de AnaMaria Publicado em 09/11/2021, às 17h54 - Atualizado às 18h03

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Lara (Andrea Horta) e Christian (Cauã Reymond) se divertem - Globo/Divulgação
Lara (Andrea Horta) e Christian (Cauã Reymond) se divertem - Globo/Divulgação

Desde o fim de ‘Amor de Mãe’, em março deste ano, não acompanhamos uma novela inédita no horário nobre da TV Globo. Mas quem ligou a televisão na última segunda-feira (8) se deparou com uma roupagem totalmente diferente. A estreia de ‘Um Lugar ao Sol’, apesar de não ter permanecido entre os assuntos mais comentados das redes sociais e nem garantido um bom índice de audiência no primeiro capítulo, tem potencial para o chamado “novelão”.

A começar pela história, que tem uma apresentação bem folhetinesca: dois irmãos gêmeos são separados no nascimento; enquanto um deles é adotado por uma família rica, o outro não tem tanta sorte e é abandonado pelo pai biológico em um abrigo. Nas histórias com gêmeos que vimos pelas novelas, como em ‘Mulheres de Areia’ (1993), ‘Viver a Vida’ (2009) e ‘Paraíso Tropical’ (2007), é comum os dois se dividirem entre o bem e o mal.

Mas em ‘Um Lugar ao Sol’, a ideia dos irmãos idênticos foge desse clichê que o público quase sempre compra. Christian e Renato não vão competir um com o outro durante a história, isso porque a autora, Lícia Manzo, explicou que este não é seu objetivo. Muito mais do que a rivalidade, os personagens idênticos pretendem abrir o debate sobre oportunidade, ética e ganância.

Na primeira semana, Renato, o gêmeo rico, será morto no lugar do irmão pobre, Christian. O rapaz pegou dinheiro com bandidos para tirar Ravi (Juan Paiva) da cadeia e, ao ter a dívida cobrada, quem pagará o pato será o homem errado. Christian, que sempre reclamou da falta de oportunidade por ser pobre e não ter uma família estruturada, irá assumir a identidade do irmão, com a ideia de aproveitar tudo o que nunca lhe fora dado.

DOIS LADOS
Ao longo do primeiro capítulo, a história dos irmãos ficou totalmente em evidência. Com a apresentação de poucos personagens, o público descobriu as motivações de Christian para ser alguém batalhador, e Renato, que tem tudo ao seu alcance, mas possui pouca perspectiva de vida. Os dois lados da moeda são destacados em passagens sensíveis e delicadas, típicas da autora, além de ótimas atuações de Cauã Reymond na pele dos gêmeos.

Lícia Manzo, autora de Um Lugar ao Sol (Foto: Globo / João Cotta)

Outro ponto que chamou atenção foi a velocidade dos acontecimentos. Como o primeiro capítulo é o cartão de visita, a primeira impressão, é comum que haja alguns pontos de clímax entre os blocos comerciais e o gancho final. Mas a direção de Maurício Farias, aliada ao texto de Lícia, trouxe uma apresentação mais lenta, sem grandes acontecimentos, porém com começo, meio e fim. Houve momentos, por exemplo, em que era possível sair e deixar a TV ligada e, ao voltar, não teria perdido novidades. Ou até escutar os diálogos enquanto mexe no celular, janta ou lava a louça.

Marca registrada da autora, o grande destaque de suas obras é o diálogo. Em ‘A Vida da Gente’ (2011) e ‘Sete Vidas’ (2015), a dramaturga sempre chamou atenção da crítica pela abordagem dos núcleos e relações sociais dos personagens. ‘Um Lugar ao Sol’ não ficou para trás, e debateu assuntos como o abandono, exclusão social e literatura com falas de maestria. É como se as cenas pudessem acontecer com alguém que está do seu lado, ou até no seu dia a dia, fugindo de absurdos, jargões e palavras prontas. Leva o público a pensar.

VILÕES OU MOCINHOS
Todo o elenco teve sua chance de brilhar: Cauã Reymond, Andréia Horta, Alinne Moraes, Tonico Pereira, Juan Paiva e Ana Beatriz Nogueira conseguiram mostrar a que vieram. Especialista em fazer mães protetoras e odiadas, Ana Beatriz pode lembrar um pouco a Eva de ‘A Vida da Gente’, mas as construções das personagens são bem diferentes. A ideia da autora não é taxar ninguém de “vilão” ou “mocinho”, e sim mostrar todas as faces de um ser humano que erra e acerta.

Cauã Reymond em cena de Um Lugar ao Sol (Foto: TV Globo)

Logo de cara, os tons da fotografia podem incomodar. É que depois de nos acostumarmos com imagens mais cruas e realistas de ‘Império’, ‘A Força do Querer’, ‘Fina Estampa’ e ‘Amor de Mãe’ (as antecessoras), ‘Um Lugar ao Sol’ apostou no filtro azulado, semelhante ao que vemos em filmes e séries. Quem assistiu ao seriado ‘Hebe’, estrelado por Andréa Beltrão, deve encontrar semelhanças de imagem e ângulos. Além de Maurício ter dirigido a obra, a atriz também marcará seu retorno às novelas nesta história.

Sem grandes novidades na dramaturgia, é um alívio poder finalmente assistir uma trama inédita em horário nobre, mas ainda é cedo para definir se o folhetim sairá bem. Quem se sentou para assistir, certamente sentiu que valeu a pena esperar. Quando o capítulo terminou, foi automático entrar no Globoplay e buscar o próximo, até se dar conta de que voltamos às raízes, e precisaremos esperar até o dia seguinte para os desdobramentos.

IVES FERRO é jornalista e repórter do site da Revista AnaMaria, onde escreve bastante sobre os bastidores da telinha e dos famosos. Instagram: @ivesferro