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Bebês / Saúde

Grávida e mãe em meio a pandemia: elas contam suas experiências

Covid-19 trouxe uma preocupação a mais em um momento já bastante complicado da vida

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Publicado em 07/05/2021, às 08h00 - Atualizado em 10/05/2021, às 11h21

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A doula Carla Dieguez  em uma conversa carinhosa logo após o parto. - Fernanda Sophia
A doula Carla Dieguez em uma conversa carinhosa logo após o parto. - Fernanda Sophia

“Um mundo novo”. É muito comum a gente se referir desta forma à transição entre a gravidez e a chegada de um filho. Nunca estamos 100% preparadas, além de sermos invadidas por um verdadeiro mar de dúvidas físicas, psicológicas e financeiras. No entanto, se gravidez já representa um momento de indagações e preocupações em tempos comuns, com a pandemia foram acrescentados motivos extras para tirar o sono das gestantes. 

Na coluna de hoje, contamos história de mães que tiveram seus bebês no decorrer de 2020, aproveitando para tirarmos dúvidas tanto sobre o pré-natal e o parto, quanto sobre os cuidados com o recém-nascido. Confira!

Júlia Pereira, mãe da pequena Suzanne, teve um grande susto pouco tempo após receber a notícia da gravidez. “Descobri 15 dias antes de entrarmos na quarentena e, logo depois, apresentei os sintomas da Covid-19. Tive muito medo de passar algo para a minha filha, mas me recuperei, fiz o pré-natal completo e ela chegou cheia de saúde”, lembra. 

Apesar do início difícil, Júlia teve assistência médica durante toda a gestação, conforme o recomendado pelo Ministério da Saúde. Infelizmente, nem todas as gestantes estão mantendo o cronograma médico, por medo de sair de casa. Segundo a obstetra Mariana Rosario, os riscos de não fazer o pré-natal adequado são enormes. 

"Estamos fazendo o máximo para que o ambiente esteja seguro e preparado para recebê-las. E isso vale também para o pós parto, sendo normal ou cesárea. Existem algumas patologias gestacionais que podem se manifestar também após o nascimento, e a mulher necessita deste acompanhamento”, pontua.

Embora os médicos passem segurança, o medo, que já é natural nessa fase, pode se acentuar. Há, por exemplo, mulheres que não tinham receio do parto em si, mas passaram a ter, porque vão precisar ir para o hospital e acreditam que podem pegar Covid-19 lá. 


Karina Stagliano de Campos é psicóloga e está grávida. (Foto: Arquivo pessoal)

"Temos observado, também, muitas gestantes com um nível de ansiedade maior do que o período já oferece normalmente”, ressalta a psicóloga Karina Stagliano de Campos, especialista em Psicologia Hospitalar no Hospital Israelita Albert Einstein, que atualmente também está grávida.

Ela conta que passar pela gestação neste momento tem sido bastante diferente. Isso porque, segundo ela, em tempos não pandêmicos, a mulher grávida é o centro das atenções da família e dos amigos, e essa relação social é muito importante. Agora, porém, não é possível ter isso.

"Uma dica é se conectar por chamadas de vídeo com outras pessoas para conversar sobre o dia a dia, mostrar a barriga e falar como está se sentindo”, comenta. Outra indicação que sugere é a terapia, que pode ser online, sendo uma oportunidade para dividir as angústias, receios e questionamentos, além da prática de atividades físicas constante.

COVID-19 É MAIS GRAVE EM GESTANTES?
Os primeiros relatos demonstravam que a infecção acometia, com a mesma frequência e gravidade, mulheres grávidas ou não. No entanto, com o tempo, foi verificado que o maior risco de complicações ocorre, principalmente, no último trimestre da gravidez e no puerpério, incluindo alguns óbitos. 

“Assim como na população geral, as gestantes com comorbidades, como obesidade e diabetes, apresentam um risco aumentado para complicações da doença. Por tais motivos, orientamos que sejam consideradas grupo de risco para Covid-19”, explica Ana Paula Mondragon, especialista em Medicina Fetal pelo Centro de Estudos Fetus, em São Paulo (SP). 

Ela lembra, ainda, que os protocolos de segurança contra a Covid devem ser mantidos e que, se houver suspeita de infecção, é preciso ficar em isolamento respiratório e avisar o pré-natalista imediatamente. Outro ponto que muitas grávidas têm dúvidas é sobre onde vão ter seus filhos. Sobre isso, Mondragon explica que nenhum estudo, até o momento, demonstrou que parto domiciliar ou em ambiente não hospitalar seja mais seguro em decorrência da pandemia. 

Portanto, as Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia continuam a reforçar que o ambiente hospitalar é o mais adequado. “As maternidades e hospitais adotaram normas de segurança e cuidados específicos para redução do risco de transmissão de doenças e são fortemente cobradas por isso”, esclarece.

E A SAÚDE DO RECÉM-NASCIDO?
Quanto aos cuidados com o bebê, a pediatra Juliana Obrownick Okamoto Ueta, do Hospital Santa Catarina, em São Paulo (SP), explica que a primeira avaliação do recém-nascido deve ser realizada com até sete dias de vida e pessoalmente. 

“Nesta consulta, avaliamos e incentivamos aleitamento materno, além de responder os questionamentos da família. Exame físico completo com avaliação neurológica, icterícia e ganho de peso são importantes, assim como verificar a vacinação feita na maternidade e orientar sobre o calendário vacinal e sua importância na prevenção de doenças graves e até mesmo fatais", ressalta. 

Exatamente por isso, ressalta a médica, é imprescindível que as primeiras consultas sejam presenciais. O exame físico, a antropometria e a observação das mamadas são essenciais para identificação de doenças e orientações para a família. 

"O bebê que faz acompanhamento de Puericultura adequado adoece menos, recebe leite materno por tempo prolongado e, desta forma, um crescimento mais saudável. É claro que, devido à pandemia, entendemos o medo da família com o deslocamento até o consultório. Por isso, atender os bebês nos primeiros horários, com higienização adequada do consultório, espaçamento maior entre as consultas e visitas domiciliares são medidas possíveis para minimizar os riscos", comenta.

PARTO HUMANIZADO

O círculo de apoio é fundamental para a mulher no parto, agora com todos os protocolos. (Foto: Fernanda Sophia)

Fabiane Barbosa, mãe de Francisco, de 5 anos, e Elis, que nasceu em 22 de março do ano passado, resolveu mudar de médico para o parto da filha menos de um mês antes da chegada da menina, pois queria um parto natural e, principalmente, humanizado. Após assistir a um documentário sobre o assunto, resolveu procurar uma equipe que a deixasse à vontade para resolver sobre como seria o nascimento da filha, caso, no decorrer do processo, precisasse de uma cesariana. 

"O decreto da pandemia aconteceu, aproximadamente, 10 dias depois que resolvi mudar a equipe que me atenderia. É claro que, como todo mundo, eu fiquei assustada, mas não por estar grávida. Na realidade, depois do susto inicial, me tranquilizei exatamente pela decisão que havia tomado. Com o parto natural, eu sabia que não precisaria entrar em um centro cirúrgico, não haveria cortes e possíveis contaminações hospitalares, inclusive em relação ao coronavírus. Eu me senti bastante segura", explica.

A doula Carla Dieguez, que também é educadora perinatal e instrutora GentleBirth, acompanha mulheres no parto há seis anos. Ela explica que, como as gestantes e puérperas estão no grupo de risco da Covid-19, tem oferecido os encontros de preparação de forma virtual. A profissional ressalta, porém, que no momento do nascimento a proximidade física é inevitável, porque faz parte do trabalho da doula oferecer apoio emocional e físico, e isso muitas vezes inclui segurar a mão, dar colo, fazer massagem. 

"Eu me cuido bastante, estou isolada em casa com minha família e uso a máscara N95. Todos os envolvidos também usam máscara, exceto a gestante que está em trabalho de parto. A maioria dos hospitais tem exigido o teste de Covid para grávidas. Claro que existe uma preocupação, mas também levamos em conta que, com a presença da doula, a mulher fica mais tempo em casa antes de ir para o hospital, ou seja, tem menos exposição ao ambiente hospitalar. Além disso, pode diminuir as chances de ir para a cesárea; e no parto normal a mulher consegue, muitas vezes, ter alta mais cedo”, explica.

Além disso, ela acredita que a presença de profissionais como ela faz toda a diferença na preparação e no trabalho de parto, ainda mais em um momento delicado como o que o mundo vive. "Doula, para mim, é sinônimo de cuidado e atenção. Na gestação, converso bastante sobre como vivenciar um parto positivo, falamos sobre os medos e receios, reforçamos os pontos fortes e tudo aquilo que pode ajudá-la a ter o parto que deseja", conclui.

VACINA PARA GESTANTES E PUÉPERAS
Importante destacar que, no final do mês de abril, o Ministério da Saúde incluiu gestantes e puérperas, além de pessoas com deficiência permanente, na fase 1 da vacinação, junto ao grupo de pessoas com comorbidades na Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19. Nesta fase, todas as gestantes e mulheres no período pós-parto, com comorbidades, independentemente da idade ou do período gestacional, poderão receber a vacina, apresentando relatório ou prescrição médica que comprove a comorbidade. Na fase 2, serão vacinadas as demais gestantes e puérperas, independentemente de condições pré-existentes. 

No caso de lactantes, a orientação deve ser para que não interrompam o aleitamento materno e qualquer vacina disponível poderá ser aplicada. Para aquelas que tiverem tomado a vacina contra a gripe, deverá ser respeitado um intervalo mínimo de 14 dias entre as doses. Segundo a nota do Ministério da Saúde, a decisão foi embasada em evidências científicas e dados epidemiológicos disponíveis, que evidenciam que "a gestação e puerpério são fatores de risco para desfechos desfavoráveis da Covid-19, tanto no que diz respeito ao risco de hospitalização e óbito, mas também em desfechos gestacionais desfavoráveis como parto prematuro, abortamento entre outros."

Thomaz Gollop, professor colaborador de ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, faz ainda um alerta: “O aumento dos casos de gravidez ectópica possivelmente está relacionado ao processo inflamatório provocado pelo coronavírus, dificultando a passagem do óvulo fecundado, que acaba por se desenvolver fora do útero. Se não diagnosticado, com a evolução da gestação, pode ocorrer o rompimento da trompa e uma grave hemorragia”.

(Colaborou: Alessandra Ceroy)

*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram: @aventurasmaternas