Quando a morte ocorre após um longo período de distanciamento, lidar com a perda é ainda mais desafiador; afinal, tem como superar o luto?
Como superar o luto? Esse processo é uma experiência complexa e profundamente pessoal, especialmente quando a morte é repentina e ocorre após um longo período de distanciamento. Ralf, conhecido pela dupla sertaneja com Chrystian, revelou recentemente em entrevista ao programa 'Fantástico', sua tristeza e arrependimento pela morte de seu irmão, com quem não falava há algum tempo. "Eu sabia que ele estava doente, mas não nesse estado que chegou. Não chegamos a conversar sobre o estado de saúde dele", lamentou Ralf, expressando a dor de não ter tido a oportunidade de se despedir.
Essa situação é ainda mais dolorosa quando, como no caso de Ralf, há um sentimento de culpa e perda de oportunidades de reconciliação. Outro exemplo é o de Xuxa Meneghel, que também enfrentou a dor de perder uma irmã com quem não estava próxima no momento do falecimento. Essas histórias ilustram a complexidade do luto quando a reconciliação não foi possível e a relação estava interrompida. A dor de perder alguém com quem tínhamos uma conexão, mas também uma distância, adiciona camadas de arrependimento e saudade, tornando o luto ainda mais desafiador.
Para entender melhor como se processa esse tipo de perda, como superar o luto e os sentimentos que estão envolvidos nele, como culpa, tristeza e arrependimento, AnaMaria conversou com o psiquiatra Luiz Scocca, médico do Hospital das Clínicas da USP e membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA). Confira a seguir.
O processo de luto é pessoal e único para cada indivíduo. No caso de Ralf, que não falava com seu irmão Chrystian há anos antes de sua morte, a situação traz uma camada adicional de complexidade emocional. De acordo com Luiz, o luto pode ser vivenciado de diversas maneiras, e não existe um padrão fixo. Elizabeth Kubler-Ross, uma renomada psiquiatra, descreveu as cinco fases do luto — negação, raiva, barganha, depressão e aceitação —, mas nem todos seguem essa sequência.
Quando a morte ocorre após um longo período de distanciamento, o luto pode ser ainda mais complicado, muitas vezes carregado de culpa e arrependimento. Pode haver uma sensação de "e se", refletindo sobre as oportunidades perdidas de reconciliação. No caso de Ralf, ele expressou arrependimento por não ter procurado seu irmão, mesmo sabendo da gravidade de sua doença.
Em algumas situações, o distanciamento pode levar a sentimentos de alívio ou até mesmo de liberação, especialmente se a relação era conflituosa. No entanto, para muitos, a culpa pode intensificar a dor da perda, tornando o processo de luto mais difícil.
Cada pessoa deve encontrar seu próprio caminho para lidar com a perda. Seja buscando terapia, conversando com amigos e familiares ou encontrando formas pessoais de homenagear a memória do ente querido. No meio desse processo, é importante reconhecer e aceitar os sentimentos que surgem, independentemente de quão complexos ou contraditórios possam ser.
Lidar com o luto, especialmente quando se trata de alguém de quem estávamos afastados, pode ser um desafio emocional significativo. Luiz Scocca sugere algumas estratégias que podem ajudar a enfrentar essa situação de maneira saudável, confira:
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As estratégias acima podem ajudar a lidar com a dor da perda, permitindo que os sentimentos sejam processados de maneira saudável e que se encontre um caminho para a aceitação e a paz, mas, afinal, como superar o luto? De acordo com Scocca, é importante ajustar nossas expectativas sobre o que significa superar o luto. Ele argumenta que superar a perda de alguém querido não deve ser visto como um objetivo obrigatório, pois pode ser insensível esperar que uma pessoa simplesmente supere a dor da ausência. Muitas vezes, a pessoa pode carregar a tristeza e a saudade pelo resto da vida.
"Eu não acredito que superar a perda seja exatamente algo importante. É até uma falta de empatia acreditar que uma pessoa não possa ficar de luto para sempre. É possível que mesmo daqui a muitos anos o Ralf lembre do Christian e chore, tenha tristeza e sinta saudade, então essa expectativa de superar a gente não deve ter. E pode ser realmente que uma pessoa nunca mais seja a mesma por ter perdido alguém", aponta o psiquiatra.
Então, respondendo à pergunta como superar o luto, é preciso ter em mente que, em vez de "superar", talvez o termo mais adequado seja "sobreviver" ao luto, especialmente quando acompanhado de um sentimento de culpa, como no caso de Ralf, que se sentia afastado de seu irmão Christian. A dor pode ser intensificada pela falta de reconciliação ou despedida, o que é comum entre irmãos que se afastam ou pessoas que, por diversos motivos, não conseguem estar presentes nos momentos finais de um ente querido.
Além disso, é possível que o luto prolongado evolua para um estado patológico, levando à depressão e, em casos extremos, ao suicídio. Nessas situações, é crucial buscar ajuda profissional de saúde mental, incluindo terapia e, possivelmente, medicação. Os familiares e amigos também devem estar atentos aos sinais de um luto complicado e oferecer apoio adequado.
"É importante tratar o luto com sensibilidade. Frases como 'ele está em um lugar melhor' ou 'a vida continua' nem sempre são úteis e podem parecer insensíveis. Muitas vezes, um silêncio respeitoso e empático é a melhor forma de apoio. A compreensão e o respeito pelo processo de luto de cada indivíduo são fundamentais para ajudar alguém a lidar com a perda", conclui Luiz Scocca.
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