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Entenda o que é o Metaverso, que ganhou destaque na trama de ‘Travessia’

Metaverso: entenda o termo que volta e meia que aparece na novela ‘Travessia’

AnaMaria Digital conversou com o sócios da Xepa.World, empresa especializada em arte e entretenimento no metaverso - Reprodução/TV Globo
AnaMaria Digital conversou com o sócios da Xepa.World, empresa especializada em arte e entretenimento no metaverso - Reprodução/TV Globo

Travessia’ estreou trazendo para o mundo das novelas vários conceitos vindos da internet, como deepfake, fake news e até algumas gírias originadas no ambiente virtual. No entanto, o folhetim se destaca por abordar uma nova tecnologia que vem sendo desenvolvida: o metaverso.

Talita (Dandara Mariana), uma das funcionárias de maior confiança de Guerra (Humberto Martins), é a figura central desta inovação. A moça busca atrair mais interesse para a construtora do patrão ao construir um shopping na realidade virtual.

Mas o que é o metaverso? Como ele funciona? Por que ir a um shopping virtual quando é possível visitar um físico? AnaMaria Digital vai te contar tudo!

O QUE É O METAVERSO?

De uma forma bastante simplista, o metaverso é um mundo virtual onde temos acesso a experiências similares ao que temos aqui, no mundo físico, funcionando como uma espécie de extensão da realidade. Assim como usamos o celular ou o computador, ele permite uma experiência de ‘realidade fantástica’.

“Isso é algo bem mais interessante em vários aspectos do que temos no mundo físico, mas vale ressaltar que uma experiência não substitui a outra, mas agrega”, explica Jonas Davanço, Digital Product Designer da Xepa.World, empresa especializada em arte e entretenimento no metaverso.

Diferentemente do que muitos filmes de ficção científica mostram, o objetivo deste “novo mundo” está bem longe de tecnologias dominarem os seres humanos, garante ele.

POSSÍVEIS NEGÓCIOS

Apesar de galerias de arte e plataformas de entretenimento serem as mais desenvolvidas no metaverso, ele explica que diversos outros tipos de negócios e eventos podem ser criados neste ambiente.

Isso inclui realizar cerimônias de premiações virtuais para que mais pessoas possam participar delas, ou recriar prédios residenciais para que possíveis compradores vejam o projeto, antes mesmo de comparecerem a uma visita física, por exemplos.

Um caso bastante interessante, que aconteceu no Brasil este ano, foi a separação de gêmeos siameses utilizando a realidade virtual. Os irmãos Bernardo e Arthur Lima, de quase quatro anos, haviam nascido com o crânio grudado e, por compartilharem uma importante veia do cérebro, tiveram que passar por uma cirurgia bastante complicada.

Para isso, foram necessários sete procedimentos cirúrgicos - sendo que só a última durou 27 horas - e quase 100 médicos, conectados simultaneamente, que usaram fones de ouvido e puderam interagir com alguns elementos do processo. Apesar de ter sido realizada no Rio de Janeiro, a cirurgia teve a direção do Great Ormond Street Hospital, em Londres (Inglaterra), segundo informações da CNN.

Jonas e Gibran Sirena, arquiteto da mesma empresa, veem este caso como um exemplo do que é o metaverso e da possibilidade que ele dá de “visualizar coisas físicas dentro deste espaço virtual”.

O SHOPPING DE ‘TRAVESSIA’

Este mesmo conceito pode ser aplicado ao shopping projetado por Talita em ‘Travessia’. Em vez de ir fisicamente a um centro comercial para fazer compras, seria possível fazê-las de forma online, mas de um jeito mais interativo e imersivo.

Em 'Travessia', Guerra (Humberto Martins) com um óculos de realidade virtual e Talita (Dandara Mariana) apresentando um projeto no fundo
Reprodução/TV Globo

“Você pode comprar como em um e-commerce, como se fosse um site qualquer onde você entra para comprar, mas poderia ser em um shopping com todas as marcas possíveis, em que você escolheria uma roupa de uma forma muito mais legal e interessante do que seria ir ao shopping físico”, projeta Jonas.

“Você pode, em uma mesma tarde, visitar os melhores shoppings de São Paulo, de Paris e de Londres e decidir o que você quer receber em casa, sem ter saído do sofá.”

O designer avalia ainda que seria possível ter um shopping com todas as marcas possíveis e, mesmo que determinada marca não tenha uma loja física no Brasil, haveria a possibilidade de encomendar de outro país, sem as limitações geográficas de compra - e de um jeito muito mais divertido.

“Talvez a gente conseguiria entrar em uma livraria onde você tenha a autora te contando sobre o livro que você está interessado. É uma forma que você nunca iria ver visitando uma livraria na rua”, esboça ele.

QUAIS OS BENEFÍCIOS DO METAVERSO?

A principal vantagem, na visão de Jonas Davanço, é a diminuição das barreiras geográficas, seja comprando produtos de qualquer lugar do mundo ou realizando cirurgias com o paciente em outro país, como foi o caso da separação dos siameses.

Já para Gibran Sirena, outro benefício é uma nova relação com os meios digitais. “Diferentemente de redes sociais que já existem, na qual passamos por várias publicações em questões de minutos, o metaverso seria um lugar onde se poderia passar um tempo de qualidade, sem as distrações das notificações”, avalia.

O ambiente digital também seria relevante para a educação. Alguns exemplos disso seriam: visualizar de forma 3D um componente químico ou, ao invés de aprender sobre a chegada das caravelas no Brasil na aula de História, visualizá-las navegando pela costa nordestina.

PRESENTE VS FUTURO

Atualmente, a área mais desenvolvida no metaverso é a da arte e do entretenimento. Jonas compara a situação com a de outras invenções do passado, mostrando o pioneirismo da arte com as novas tecnologias.

“Acredito que, por ter um caráter de inovação, de ser disruptiva e os artistas estarem sempre buscando novas formas de se expressar e tentando romper barreiras, quando surge uma nova tecnologia, a arte é um dos melhores lugares para aquilo florescer, e vai ditando como outros negócios podem utilizar essa tecnologia depois”, segue ele.

Gibran ressalta ainda que a tecnologia já é usada no mundo acadêmico, citando o exemplo de um professor que apresentou um trabalho no qual usariam o metaverso para ajudar pessoas recém-amputadas a manterem a cognição sobre o movimento até receberem a prótese, o que pode levar até dois anos para aqueles que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).

A previsão é que, conforme surjam mais conteúdos dedicados ao metaverso - como existe hoje as redes sociais para celulares - novas pessoas passem a adotar esta tecnologia em suas vidas. Além disso, seguindo o exemplo dos aparelhos móveis, o mais provável é que os óculos de realidade virtual se modernizem e fiquem mais acessíveis no decorrer do tempo.

Óculos de realidade virtual
Unsplash/Mediamodifier

“Eles ainda têm um design meio trambolhão, pesados e nada ergonômicos. Acredito que estão em desenvolvimento estudos que vão fazer esse equipamento ficar um pouco mais orgânico e gostoso de usar”, acredita o especialista.

Foi possível ver esse tipo de evolução no mundo dos celulares. Quando surgiram, eles eram enormes, mas foram ficando mais compactos até sua evolução para o smartphone. Vale ressaltar que, até 2015, muitos sites não tinham uma versão acessível para esse tipo de aparelho, mas foram se adaptando. A ideia é que o mesmo processo aconteça com o metaverso.

FRACASSO?

O mercado, porém, não parece tão otimista. A aposta no metaverso vem gerando alguns contratempos para a Meta - antigo Facebook. Isso porque suas ações vem caindo substancialmente desde que Mark Zuckerberg, o criador desta rede social, anunciou que passaria a desenvolver sua empresa dentro do universo virtual.

No final de outubro de 2022, as ações da Meta caíram quase 20% na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos, o que reduziu em aproximadamente 67 bilhões de dólares o valor de mercado das ações da empresa, segundo a agência de notícias Reuters.

Além disso, a área interna da empresa dedicada a desenvolver o metaverso, chamada Reality Labs, perdeu mais de 20 bilhões de dólares desde o início de 2022, de acordo com informações do site Insider.

A perda de dinheiro e do valor da empresa gerou preocupação entre os investidores da Meta, e um deles publicou uma carta aberta pedindo que os negócios da empresa voltassem a focar no que realmente gera lucro.

Diante disso, eles publicaram um comunicado reconhecendo as perdas recentes e informando que elas devem se estender até 2023 - e até aumentar -, mas ressaltando que a receita deve aumentar a longo prazo.

MAS E A PRIVACIDADE?

Outra questão que gera preocupação entre várias pessoas é o uso de dados e a privacidade dos internautas, algo já é amplamente questionado com as redes sociais existentes.

A advogada Ana Gabriela Araújo Zadrozny, especialista em Direito Digital e Compliance Digital, explica que os desenvolvedores do metaverso terão que tomar cuidado e atuar de forma preventiva para que os dados e informações que trafegam neste ambiente não sejam expostos a vulnerabilidades - assim como ocorre atualmente com smartphones e outros aparelhos.

“O ambiente do metaverso é muito similar ao ambiente digital, aplicando-se nele as exigências das legislações vigentes, especialmente as de Proteção de Dados (no Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados). A melhor maneira de se enquadrar à legislação é adotar medidas rígidas de tratamento e armazenamento de dados, medidas preventivas e termos de consentimento de uso de dados”, esclarece.

Ainda assim, cada plataforma poderá exigir os dados necessários para habilitar seu funcionamento. Com isso, é preciso ter cuidado e bastante atenção no momento de aceitar disponibilizar determinadas informações.

A advogada ainda destaca uma questão que pode se tornar um grande problema no metaverso: os discursos de ódio e infrações às políticas de cada plataforma.

Ana Gabriela comenta que eles deveriam seguir a legislação brasileira, com embasamento nas regras do Código Civil, em relação à reparação de danos morais, e até mesmo materiais, sendo que cada caso seria analisado individualmente.

“Especialistas entendem que o discurso de ódio está diretamente ligado a ‘palavras’ e ‘posicionamentos’, que vão além de agressões físicas, e sim violência virtual, sendo ela pautada na intolerância a possíveis diferenças culturais, religiosas, étnicas, orientação sexual e posicionamento político, com objetivo de instigar demais pessoas”, explica.

Ela ainda avalia que isso pode causar “dano social”, uma consequência do discurso de ódio: ela leva uma pessoa, por exemplo, a incendiar a casa de alguém. Ou seja, o discurso de ódio pode começar na internet e nas redes sociais, mas ter consequências no mundo físico. “Dependendo do caso, pode até ser considerado crime de responsabilidade e, quando envolve agente público/político, crimes de responsabilidade administrativa, atos que vão contra a legislação pátria”, finaliza.