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Joyce Ribeiro: uma história de representatividade

Joyce Ribeiro foi a primeira mulher negra a assumir a bancada de um jornal diário, saiba mais!

Karla Precioso Publicado em 12/02/2022, às 08h00

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Joyce Ribeiro conta detalhes de sua vida pessoal e profissional - Instagram/joyceribeiro
Joyce Ribeiro conta detalhes de sua vida pessoal e profissional - Instagram/joyceribeiro

Joyce Ribeiro, 43 anos, segue construindo uma carreira de valor no jornalismo nacional. Ela foi a primeira mulher negra a comandar um debate entre presidenciáveis nos 68 anos de TV e a assumir a bancada de um jornal diário, em horário nobre, nos canais abertos. Atualmente, está à frente do Jornal da Tarde, na TV Cultura. Muito atenta às questões raciais e à consciência negra, depois do Brasil, a apresentadora lançou em Lisboa, Portugal, seu livro Chica da Silva – Romance de uma Vida, obra que, segundo ela, revela nuances pouco conhecidas dessa emblemática personagem da história brasileira: “O interesse por essa mulher contestadora vem de longe e sempre se renova. Meu objetivo é ecoar a história da mulher forte do século XVIII, escravizada e com tantas vivências que se aproximam
das enfrentadas pela geração de hoje”. A seguir, ela fala sobre representatividade e ainda divide conosco trechos do livro – pinceladas da história que atravessou (e marcou) o tempo e os oceanos".

Fale sobre a proposta de seu livro Chica da Silva − O Romance de uma Vida.
A história da Chica da Silva já esteve no cinema, televisão, teatro, em letra de música... O interesse por essa mulher contestadora vem de longe e sempre se renova, já que muitas das questões enfrentadas por ela no século XVIII continuam presentes, e ainda são grandes desafios das mulheres atuais. Meu objetivo foi trazer uma reflexão sobre a presença da mulher na sociedade de ontem e de hoje.


Contar a história de Chica da Silva, uma figura histórica importante, sempre foi um desejo forte?
Sempre me interessei pela história, força e coragem de Chica da Silva. O convite da editora me trouxe esse desafio de refletir e observar o mundo que a cercava e o mundo que as mulheres de hoje enfrentam. Foi um daqueles desafios de fazer brilhar os olhos. Mergulhei de cabeça e finalizei o livro em dois anos. Um dos grandes desafios da minha carreira.

Qual o intuito de relançar a obra em Portugal?
Isso faz parte de um projeto ainda maior de levar o livro para diversos países de língua portuguesa, para
a comunidade lusófona. Estreitar as relações culturais e produção literária entre os países que falam a nossa língua é o objetivo, há uma riqueza infinita nessa relação: autores, artistas e produtores de conteúdo em todas as plataformas ganham muito com essa aproximação.


Chica da Silva, apesar de ter vivido num contexto de escravidão no século XVIII, tinha uma mentalidade muito à frente de seu tempo. Dá para citar algumas de suas lições?
Apesar do silenciamento da época, Chica da Silva ousou se expressar e contestar, acreditou que podia mudar sua realidade e a de sua família. Ela tinha uma personalidade forte e, entre erros e acertos, não tentou mudar a si mesma para se enquadrar em uma sociedade onde pessoas na sua condição, mulher e escrava, simplesmente não tinham vez, espaço e voz. Chica demonstrou ter consciência da importância da educação na vida de suas filhas. Mulheres não se dedicavam aos estudos no século XVIII, e ela investiu na educação de suas meninas.

Você foi a primeira mulher negra a comandar um debate entre presidenciáveis nos 68 anos de TV, também foi a primeira mulher negra a assumir a bancada de um jornal diário, em horário nobre. O que mais você atribui como algo significativo para ser uma ‘marca’ forte no jornalismo?
Ao escolher o jornalismo, e principalmente a televisão, eu sempre soube que o caminho seria difícil. Cresci com poucas referências de mulheres que se pareciam comigo na TV – Glória Maria foi uma desbravadora, DulcinéiaNovaes, Zileide Silva, profissionais que sempre me fizeram acreditar e seguir.
Alguns pilares sustentaram a construção da minha carreira até aqui, mas, para citar alguns, eu destacaria a insistência, pois foram muitos momentos difíceis em que a possibilidade de desistir
parecia a menos tóxica, a vontade de aprender sempre, estudar, me reciclar e observar quem eu admirava, e a minha fé, a crença nas minhas escolhas, na forma de fazer e em minhas características, mesmo quando tudo ao meu redor parecia dizer o contrário. Sensibilidade e intuição contam em momentos de receio e dúvidas durante a carreira... e esses momentos se repetem com frequência
ao longo da carreira.

Quais suas maiores conquistas e lutas no mercado de trabalho?
Hoje vejo que as grandes demandas e lutas no mercado de trabalho estão relacionadas às oportunidades iguais para todos. Oportunidade de ser selecionado de acordo com as
suas habilidades e potencialidades, oportunidade de se preparar e estudar para buscar boas vagas no
mercado, segurança de que será respeitado no ambiente corporativo em sua plenitude, sem ter que mudar sua personalidade. São muitas as demandas e os passos estão sendo dados, aos poucos, com um trabalho de conscientização e percepção de que tudo começa na educação de nossos
jovens. Não há milagres ou fórmulas mágicas. Tudo passa sempre pelo respeito e educação.


Em entrevista, você revelou: “Para minha filha, o cabelo, quanto maior, mais black power, é
sensacional”. A nova geração de negros no Brasil hoje encontra um ambiente mais favorável,
após as constantes lutas contra a discriminação racial?
A nova geração está mais preparada para enfrentar e ocupar todos os ambientes, ainda que esses
ambientes não estejam preparados e apresentem resistência. A juventude de hoje tem outras ferramentas que a fortalece em relação às questões raciais. O letramento, o debate dos problemas estruturais, a luta por representatividade e a troca instantânea de informações com outros jovens em todo o planeta fortalecem a juventude, que cresce cada vez mais consciente e preparada para os desafios.


De todas as experiências profissionais na TV, qual foi a mais desafiadora?
O debate presidencial foi a experiência mais marcante da minha carreira, pelo significado político, o
momento do Brasil, as discussões que estão em evidência quandopensamos em uma disputa para a
escolha do presidente do País. Ser a mediadora, a primeira mulher negra a fazer isso, traz na minha presença as lutas de muitas e muitos que vieram antes de mim.


E fora da tela?
A maternidade me transformou, me completou, multiplicou as minhas motivações, meus sonhos...
E tornou a minha vida muito mais feliz. Eu me preparei para cada fase da maternidade, planejei
cada momento sem saber o que o nascimento das minhas filhas faria com a história da minha vida. Foi,
está sendo e sempre será o maior de todos os desafios.


Já conquistou tudo o que sempre sonhou?
Eu sou feliz por ter realizado muitos sonhos, muitas situações que eu esperei anos, mas ainda estou longe de ter conquistado tudo. Ainda tenho muito a realizar.


Qual a maior lição que a pandemia trouxe a todos?
A pandemia fez com que olhássemos o mundo de outra maneira. Enfrentar essa crise reforçou a lição de que somos todos frágeis e dependentes uns dos outros. A lição de que somos pequenos, mas, ao mesmo tempo, gigantes em nossas potencialidades. E a certeza de que, enquanto não estiver bom para todos, não estará bom para ninguém.