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Espírito Natalino: como estimular o amor ao próximo desde o berço?

Como as necessidades de dezembro existem o ano inteiro, vale incentivar as boas práticas com as crianças

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 24/12/2021, às 08h00

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Doações crescem durante o período de Natal. - Melanie Lim/Unsplash
Doações crescem durante o período de Natal. - Melanie Lim/Unsplash

Se tem uma época do ano em que as doações crescem, sem dúvida, é a do Natal. As instituições recebem mais presentes, brinquedos antigos de crianças, produtos de cesta básica, entre outros itens que chegam de empresas e famílias para tornar a festa mais cheia de amor e solidariedade.

Apesar do lado positivo disso tudo, porém, é importante chamar a atenção para o fato de que as necessidades de dezembro também são sentidas ao longo do ano, valendo incentivar as boas práticas inclusive entre as crianças.

Afinal, quanto antes os pequenos entenderem o espírito da generosidade e da boa aventurança, maiores os benefícios para toda a sociedade. Por aqui, Theo separa seus brinquedos anualmente, desde muito cedo, para doar. E não é raro pedir de aniversários presentes que vão direto para algumas instituições. Benjamin, mesmo tão novinho, também segue pelo mesmo caminho.

Na coluna de hoje, vamos falar sobre ações solidárias de organizações, escolas e, é claro, das que partem das famílias, especialmente as com crianças.

SOLIDARIEDADE QUE PARTE DE CASA

Segundo um levantamento do Itaú Social e Instituto Unibanco, realizado pelo Datafolha, 48% dos brasileiros fazem ou já fizeram uma ação voluntária e 82% consideram muito importante o voluntariado na educação – assim como os professores, que acreditam que o envolvimento da comunidade pode melhorar o aprendizado dos estudantes, além de contribuir com a socialização e o futuro das crianças e adolescentes.

Para chegar a esse cenário, a pesquisa ouviu 1.871 pessoas, a partir dos 14 anos, com o objetivo de analisar a perspectiva do brasileiro em relação ao voluntariado, especialmente na área da educação. Os resultados indicam que os brasileiros estão preocupados com o próximo e dispostos a ajudar.

O menino Luiz Otávio participa ativamente das doações.
O menino Luiz Otávio participa ativamente das doações. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Roberta Secchieri Rocha Borges, mãe de Luiz Otávio, de 6 anos, conta que costuma falar sobre causas sociais com o filho, explicando que nem todas as pessoas têm as mesmas condições, pois algumas passam por dificuldades e que essa desigualdade é muito triste.  Para ela, é o momento de falar os motivos de estarem fazendo isso. "Nós, pais, podemos educar pessoas melhores para o mundo, ensinando aos nossos filhos valores como doação e amor ao próximo. Quanto mais cedo passarmos esses valores e sentimentos, mais cedo eles aprenderão o significado de dividir", avalia.

Para ela, o exemplo vem de casa. "Recebi isso dos meus pais e tento passar isso para o Luiz Otávio. Assim, desde pequenininho, fazemos as doações de brinquedos para crianças menos favorecidas, montamos juntos sacolinhas para entregar na creche, doamos cestas básicas. Ele sempre presenciou isso”, conta. "No final do ano passado, meu filho montou uma lojinha na casa da minha mãe, com brinquedos dele, almofadas e outros artigos, e começou a vender alguns itens para a família por R$ 2. No final, pediu para a minha mãe fazer uma sacolinha para doar para as crianças do Hospital de Amor, que fica na minha cidade. Ele sempre foi solidário, é dele, mas acho que os exemplos que recebe aguçaram ainda mais essa preocupação com o outro."

Marília com as filhas
Marília, mãe de Murilo, de 8 anos, e Paola: doação em família. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Outra mãe que procura passar lições sobre solidariedade para os filhos é Marília de Paula Fernandez Luna, mãe de Murilo, de 8 anos, e Paola, de 2. Ela acredita ser importante que eles cresçam sendo solidários, com esse sentimento de bondade e de amor ao próximo. Por isso, costuma conversar muito com os filhos sobre a realidade dos menos favorecidos, sempre de uma maneira muito sincera e objetiva, mas com uma linguagem que eles entendam.

"Falo sobre pessoas que não têm uma casa para morar, sobre os doentes, sobre outras crianças que não podem ter o que eles têm. Mostro que, com a ajuda de todos, podemos, sim, mudar o mundo”, conta. Marília lembra, inclusive, de duas iniciativas de Murilo que partiram diretamente dele: uma vez ajudou um asilo de Atibaia, o São Vicente de Paula, doando livros para os idosos que gostavam de ler; e em outra ocasião fez questão de escolher algo dele que gostava muito, um carrinho, para doar para outra criança.

“Eu já havia comprado um presente novo para ele dar na campanha de Natal =, mas aí ele quis dar também algo dele, dizendo que se aquele brinquedo havia feito ele muito feliz, agora iria fazer o amigo também. Fiquei muito emocionada, porque me fez ter a certeza de que estou no caminho certo”, comenta.

Para a psicóloga Fernanda Prado Brocchi, do Hospital de Amor Infantojuvenil (antigo Hospital de Câncer de Barretos), criar filhos com o conceito de solidariedade nos dias de hoje é indispensável, visto que vivemos em uma sociedade cada vez mais individualista e segredada, onde o ‘outro’ é, na maioria das vezes, tomado como uma ameaça. Segundo ela, para criarmos cidadãos responsáveis e éticos, é necessário discutir com as crianças desde cedo a importância de ser solidário, sensibilizando-as de que existe um coletivo do qual todos fazemos parte.

"Ninguém vive só, por isso é importante dividir com o próximo aquilo que tivemos a oportunidade de receber. É possível envolver a criança em causas sociais com atitudes simples, que podem começar dentro de casa, como fazer a separação do lixo reciclável e conscientizar sobre o desperdício, além de criar certos “rituais” de fim de ano, como, por exemplo, que a criança ajude a separar roupas e brinquedos que não usa mais e que podem ser doados a outras crianças. É essencial, ainda, estimular e mostrar os benefícios e a importância daquela ação, fazendo-a participar ativamente de todo processo, em vez de constrange-la pelo eventual apego aos seus pertences”, explica.

Na hora de abordar causas sociais, como a pobreza, Brocchi diz que a criança percebe, desde muito pequena, que alguns têm, enquanto outros não, por mais que ainda não tenha uma noção de contexto social para explicar essa situação. Assim, cabe a nós, adultos, inserir neste vazio de significado uma explicação que a criança possa compreender.

Os pais podem, por exemplo, pedir a ajuda da criança para separar roupas ou outros utensílios para doar, explicando, também, que enquanto existem famílias que têm dinheiro para comprar comida no mercado e roupas, existem pais e mães que podem estar sem emprego ou doentes e, por isso, não conseguem comprar o que a família precisa.

“Se a criança ainda puder ir junto entregar as doações e conhecer de perto essa realidade diferente, também pode ser benéfico, desde que os adultos estejam dispostos a tirar dúvidas e acolher as angústias da criança em seguida (...) A maior lição é o senso de coletividade, essencial para o desenvolvimento da cidadania. A criança aprende que ela pode fazer a diferença diante de injustiças sociais e se colocar em um lugar de ação ao invés de resignação”, complementa.

EDUCAÇÃO E DOAÇÃO

entrega de presentes
Doações entregues geram emoção e alegria a quem recebe. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Todos os anos, inúmeros colégios fazem campanhas para ajudar quem precisa, especialmente no final do ano – a pesquisa que falamos acima, realizada pela Datafolha, mostra, inclusive, que a maioria dos professores (77%) também considera importante o voluntariado na educação e acredita que o envolvimento da comunidade pode melhorar o aprendizado dos estudantes, além de contribuir com sua socialização e seu futuro.

No Colégio Portinari, de Salvador, é realizada a ‘Campanha seja solidário, doe brinquedos’, quando todos arrecadam, no final do ano, brinquedos novos ou em boas condições de uso. Os alunos participam, além dos funcionários. “Temos um olhar voltado para o desenvolvimento humano do indivíduo. Incentivamos, por isso, que pratiquem atitudes colaborativas dentro e fora da escola. Já realizamos outras ações semelhantes, com doação de alimentos roupas e água potável e, notamos a satisfação que todos eles sentem em fazer parte disso”, comenta Rogério Borges, Professor de Língua e Literatura da escola. Para ele, ensinar os pequenos desde cedo a olharem o outro, também é papel da escola, e não apenas dos pais. “É parte do espirito da vida em coletividade cuidar do outro”, complementa.

Já no Colégio Physics, de Belém, a ação envolve não apenas brinquedos, mas também cestas básicas e kits escolares doados para crianças carentes. Lorena Jacob, Diretora Pedagógica da instituição, diz que esse é um assunto urgente e é preciso sempre falar sobre causas sociais. “A pobreza, na verdade, é algo também que precisa ser trabalhado. O enxergar e perceber o que, muitas vezes, é invisível aos nossos olhos. Precisamos fazer com que o aluno deixe de entender aquilo como algo invisível e perceba o que está ao redor da sua casa, da sua escola. E não apenas ver, mas pensar como pode implementar algo para gerar algum tipo de mudança. Engajar e trazer para a criança a reflexão sobre isso gera o ressignificar, que é a nossa missão. Durante todo o ano letivo, elegemos vários acontecimentos e trouxemos isso para o dia a dia deles, mostrando como é possível ajudar”, pontua.

Mas embora a vontade de ajudar normalmente aconteça, nem sempre ela se torna realidade. Sobre isso, Jacqueline Chiarello Daraia, diretora do Colégio Stella Maris (unidade Juvevê), faz um alerta importante: ajudar o próximo, desenvolver empatia e solidarizar-se com a situação do outro deve fazer parte da formação dos nossos filhos sim, porém, não adianta apenas falar.

“Todos sabemos como fazer. Muito se fala sobre isso, mas o essencial é colocar em prática. A solidariedade deve ser algo natural. É necessário explicar para as crianças que o sentimento que geramos ao ajudar o próximo é indescritível, e que só pode ser sentido por aquele que faz”, comenta. No Stella Maris, a campanha anual arrecada jogos que serão doados para as crianças de uma comunidade carente.

Ivone Ferreira Santos, psicóloga do Colégio Novo Tempo, de Santos (SP), que este ano fez uma campanha para arrecadar materiais de higiene para uma ONG local, lembra, ainda, sobre a importância da doação em tempos de um planeta em processo contínuo de destruição causada pelo homem, que incentivado por um consumismo desenfreado, tem esgotado uma grande parte dos recursos naturais. “Ser solidário baseia-se no princípio de compreendermos que vivemos em coletividade e, portanto, é fundamental nos preocuparmos uns com os outros. Precisamos deixar esse legado para nossos filhos”, esclarece.

E, para envolver os pequenos nas causas sociais, elas precisam perceber que os adultos a sua volta mostram interesse pelo bem-estar comum e se engajam em ações solidárias. “Dessa forma, passam a ver com naturalidade a necessidade de participar de propostas e atividades com esse teor, ou seja, o maior incentivo é o exemplo”, conclui.

O ANO TODO

Para Wendy Reis, pedagoga e diretora da rede Primeiros Passos, de Atibaia (SP), e mãe de Gabriel e Isadora, gêmeos de 16 anos, e Beatriz, de 4, é importante que as escolas façam campanhas não apenas no Natal, mas durante todo o ano. “A solidariedade está presente em diversas ocasiões, como na Páscoa, na Festa Junina, na arrecadação de ração para animais e de fraldas para idosos, e muitas outras datas. E sempre incentivamos não apenas as crianças a participarem, mas também as famílias”, comenta.

Ela diz, ainda, que além de ajudarem na arrecadação, em algumas oportunidades os alunos também auxiliam na entrega. “Eles sempre retornam para as salas de aula sensibilizados com o que viram, e com uma bagagem emocional para compartilhar com os demais. Ajudar é um ensinamento para a vida e que muda a realidade não apenas de quem recebe, mas também de quem faz”, diz. Wendy lembra, também, que outra forma de incentivar nas crianças esse conceito de solidariedade é por meio das redes sociais.

“Hoje, elas têm muito contato com as redes sociais, e ali conseguem ter acesso a outras realidades, visualizar as diferenças que existem e entender porque outras pessoas precisam de ajuda. Claro que os adultos devem acompanhar, porque alguns conteúdos não são adequados aos mais novos. Mas, de uma forma geral, as redes podem ser uma importante ferramenta para incentivar as crianças a fazerem um trabalho voluntário, seja com outras crianças, animais, idosos ou até mesmo no cuidado com o meio ambiente”, finaliza.

A TECNOLOGIA AJUDANDO NO VOLUNTARIADO

Para quem tem interesse em começar a praticar o voluntariado ou ampliar o que já faz, existem alguns sites e aplicativos para ajudar, mesmo para quem não pode sair de casa. Também é possível fazer todo tipo de doação. O apoio às organizações sociais tem sido um meio de garantir que a contribuição chegará para quem realmente precisa de auxílio.

“Pessoas físicas e jurídicas costumam escolher ONGs ou ações com transparência no trabalho para apoiarem. Os meios digitais ajudam a propagar nosso trabalho e nos aproximar dos benfeitores”, explica Edmond Sakai, Diretor de Relações Institucionais, Marketing e Comunicação da Aldeias Infantis SOS no Brasil, organização humanitária internacional que luta pelo direito das crianças a viverem em família.

E ajudar uma causa pode ser mais simples e prático do que se imagina. A seguir, conheça algumas formas de ajudar:

Orgânico Solidário – Para ajudar, basta doar qualquer valor pelo aplicativo do Ifood e receber de volta o mesmo valor em créditos. O projeto doa cestas de frutas, legumes e verduras montadas por uma rede de operadores orgânicos que produzem e/ou adquirem alimentos de agricultores orgânicos e os entregam para uma rede de organizações/projetos sociais parceiros, gerando renda para quem produz e, principalmente, segurança para quem não tem o que comer.

Mercado Solidário - Formado por uma parceria entre o Clubinho de Ofertas e o Compre Zipp, a gente pode ajudar fazendo a primeira compra pelo site com o código clubin. Além de ganhar R$ 40 de desconto e frete grátis na primeira compra, ainda ajudamos o programa Mães da Favela, da CUFA (Central Única das Favelas), maior plataforma de ajuda às comunidades do Brasil, com 150 milhões arrecadados, e o maior projeto de conectividade de favelas no mundo.

Interagiu, doou - aplicativo Adyou - A tecnologia está a favor de marcas, usuários e organizações sociais. Recentemente, a primeira rede de Social Commerce no Brasil foi lançada. O Adyou permite que os usuários criem conexões por meio de suas amizades e hábitos de consumo, expondo experiências, opiniões de compra e uso do produto. Os usuários coletam um cashback social a partir das suas interações com os conteúdos de marcas e podem doar às suas causas favoritas dentro do app.

Festas virtuais e presentes conscientes - Para aumentar o ciclo da solidariedade, algumas pessoas estão trocando presentes por doações. Nas redes sociais, às vésperas do aniversário ou até mesmo um chá de bebê, tem sido comum convidar amigos e familiares para se unirem virtualmente em prol de uma boa ação. Os convidados direcionam o que pagariam em um tradicional presente para doações às organizações sociais. Um nome de destaque é o Presente Consciente. Basta acessar o site, clicar em Faça sua Festa e seguir as recomendações como envio de convites, valor dos “presentes virtuais” e toda arrecadação será 100% revertida para a ONG da escolha do anfitrião.

Doe Agora - O distanciamento social imposto pela pandemia impediu os recursos presenciais, tornando os meios digitais ainda mais necessários. Boa parte das organizações sociais possuem o sistema de captação de doações por meio do site oficial, clicando em Doe Agora, por exemplo. Em poucos cliques, é possível escolher a quantia que será destinada, conectando o doador aos sistemas de bancários ou de cartões de crédito. Para as ONGs que não têm esse sistema implementado, dados bancários ficam disponíveis para transferências convencionais ou PIX.

Destinação de Nota Fiscal -  Pelo site da Fazenda, é possível escolher e cadastrar uma instituição, optando, inclusive, pelo período em que deseja prestar o auxílio. Após o cadastro, os cupons fiscais de todas as compras em que o consumidor informar o CPF serão destinados à entidade escolhida, de forma automática. As organizações que podem participar do recurso são as sem fins lucrativos nas áreas de Assistência Social, Saúde, Educação, Defesa e Proteção Animal, e Cultura. Os consumidores brasileiros têm esse recurso através da Nota Fiscal Paulista, Nota Potiguar, Nota Paraná e Nota Gaúcha. Interessados encontram mais informações pelos aplicativos de cada nota ou nos sites - Nota Fiscal Paulista; Nota Potiguar; Nota Paraná e Nota Gaúcha.

Divulgue nas redes sociais - O Global Trends in Giving levantou que 41% das pessoas da América Latina e Caribe afirmaram que a mídia social é a ferramenta de comunicação que mais os inspira a doar. A benfeitoria está não apenas no ato de doar, mas em disseminar a mensagem do trabalho realizado pela organização que se identifica, apresentando-a à rede de seguidores. Compartilhar as publicações do perfil da ONG ou fazer posts comunicando uma campanha, aumenta o share da ação e permite que mais pessoas engajem na publicação.

(Colaborou: Alessandra Ceroy)

*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram:@aventurasmaternas