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De 84 novelas da Globo, apenas 22,6% tiveram pessoas trans, mostra estudo

Levantamento revelou que, nas primeiras aparições, personagens transexuais eram consideradas pela mídia como “estranhos” e “não-naturalistas”

Ivan, em "A Força do Querer" - Reprodução TV Globo
Ivan, em "A Força do Querer" - Reprodução TV Globo

Apesar de as pessoas transsexuais estarem cada vez mais visíveis no mundo das artes, uma pesquisa mostrou que durante o período de 2012 a 2022, de 84 novelas da TV Globo, apenas 19 (22,6%) delas tiveram personagens trans representados nas tramas. O ponto alto destas inserções se deu com o drama de Ivana, jovem que fez a transição para Ivan em “A Força do Querer” (2017), de Glória Perez. As informações são do estudo Discurso e transgeneridade: uma análise do discurso da imprensa sobre a representação trans e travesti em telenovelas, realizado pelo pesquisador e jornalista Mario Luiz de Souza Camelo, na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Vale destacar que, apesar de o número de pessoas trans ainda ser pequeno nas telas, a Globo é pioneira na TV aberta brasileira ao trazer o tema e este debate para a grande massa. 

Conforto na própria pele 

Em “A Força do Querer”, o personagem que foi interpretado pela atriz Carol Duarte mobilizou o público ao mostrar o sofrimento das pessoas que não se identificam com o corpo com o qual nasceram, e precisam enfrentar preconceitos e procedimentos para encontrar conforto e paz dentro da própria pele. 

Entretanto, a compreensão sobre o tema nem sempre foi a mesma, pois também de acordo com a pesquisa de Mario Camelo, quando a personagem Sarita Vitti (Floriano Peixoto) apareceu na novela “Explode Coração”, em 1995, houve um grande estranhamento da imprensa nacional e parte da imprensa a classificava como uma personagem “não-naturalista” “não-convencional” e até mesmo como “estranho”. 

“Ainda há muito estigma na forma como as pessoas trans são representadas. Não tanto quanto existia nos anos 1990, mas ainda há. Por exemplo, na novela ‘A Dona do Pedaço’, de 2019, Glamour Garcia interpretava a Britney e tem uma cena forte em que ela conta ao namorado que é trans. Ele praticamente surta, inclusive tornando-se agressivo. Está aí muito vivo o estigma”, afirma Mario Camelo sobre o preconceito que foi interpretado na tela da TV e que reflete o pensamento de grande parte da população nacional. 

O pesquisador também acredita que as novelas podem fazer mais por essa causa. “Enquanto as novelas não normalizarem de alguma forma as vivências e os corpos trans, esses assuntos continuarão sendo tachados de ‘polêmicos’ e os discursos sobre as pessoas trans continuarão colocando-as à margem”, reflete. 

Mesmo assim, a TV Globo ainda é pioneira nestes assuntos no Brasil, já que é a única emissora de televisão aberta que mais investe em informação sobre este tema. “Eu espero que as novas novelas do streaming, que estão para sair, tragam representação adequada e mais diversidade, assim como a Globo vem fazendo em suas telenovelas”, completa Camelo. 

 O que a ciência diz sobre a transexualidade? 

Esta condição tem explicação científica. No livro Trans - Histórias reais que ajudam a entender a vida de pessoas transexuais desde a infância (Editora Globo), o médico Alexandre Saadeh, psiquiatra e coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), explica que a transexualidade começa na gestação, já que o órgão genital costuma se formar primeiro no feto e, depois, a área cerebral responsável pela identificação de gênero.  

Na maioria da população, essas duas formações são “compatíveis”, por exemplo, órgão genital feminino com cérebro feminino. No entanto, nas pessoas transgêneros, não há essa convergência: a pessoa nasce com o órgão genital de um sexo, mas com a mente de outro. Assim como mostrou o personagem Ivan, em “A Força do Querer”.