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Medidas extremas para emagrecer: por que você deve parar com isso?

Precisamos entender que corpo magro não é necessariamente sinônimo de saúde

Juliana Ribeiro/ Edição: Vivian Ortiz Publicado em 05/08/2021, às 08h20

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Dietas muito restritivas podem comprometer a saúde - Bill Oxford por Unsplash
Dietas muito restritivas podem comprometer a saúde - Bill Oxford por Unsplash

Vencer a luta contra a balança não é nada fácil e, por vezes, requer alguns sacrifícios. Manter uma alimentação equilibrada e praticar exercícios físicos, por exemplo, são algumas das formas mais indicadas por profissionais para a perda de peso. Falando assim até parece simples, né? Mas é preciso lembrar que ser magro nem sempre é sinônimo de ser saudável.
A empresária Dani Rudz, que é especialista em mercado plus size e também colunista aqui em AnaMaria, conta que já tentou se encaixar nos ‘padrões‘ e fez dietas que só prejudicaram sua saúde, tudo isso em prol de estar magra. “O que é certo de verdade? Estar magra e doente ou feliz com meu corpo e saudável, com alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos e equilíbrio mental?”, questiona.

Ela, na verdade, optou por um caminho mais leve, amando seu corpo e suas formas exatamente como são. Entretanto, sabemos que não é pequeno o número de pessoas que, diferentemente de Dani, continuam seguindo dietas duvidosas ou procurando meios complicados para alcançar o corpo que consideram ‘ ideal’.

Tanto que, recentemente, viralizou uma ideia polêmica de pesquisadores da Nova Zelândia. Eles desenvolveram um dispositivo inédito de 'travamento' para a boca, com o objetivo de ajudar na perda de peso. Sim, é isso mesmo! São ímãs aplicados nos dentes molares e que, uma vez instalados, impedem que as mandíbulas abram mais do que dois milímetros. Deste modo, o paciente acaba ficando com a boca fechada quase que por completo e conseguindo apenas consumir alimentos líquidos.  

O pesquisador Paul Brunton, da Universidade de Otago, explicou que, com o aparelho, o paciente consumirá somente alimentos líquidos e o dispositivo não afetará a capacidade de respirar ou falar. Ainda de acordo com a equipe de Paul, a invenção poderá ajudar a combater a obesidade. 

Apesar de ainda não estar sendo comercializado, o dispositivo obviamente já tem dividido opiniões mundo afora. Afinal, algo tão drástico pode ser considerado uma boa alternativa?

Dispositivo desenvolvido por pesquisadores para perda de peso Foto: Divulgação/University of Otago

DE JEITO NENHUM
Quando falamos no aspecto técnico da invenção, o dentista Gustavo Issas, especialista em disfunção temporomandibular e implantes dentários, explica para AnaMaria Digital que a ideia até pode ser considerada eficiente, afinal, a pessoa vai literalmente ficar impossibilitada de comer. Contudo, ele vê uma série de contraindicações no que diz respeito a parte bucal, sendo a escovação a primeira delas, já que o indivíduo ficaria a maior parte do tempo com a boca fechada. 

"Chegará um determinado momento em que não será possível fazer toda a escovação correta durante o dia, especialmente após consumir algum alimento", opina o especialista, ressaltando que isso poderá acarretar problemas na gengiva, inflamações, irritações, acúmulo de placa, tártaro e até perda óssea. 

E a coisa ainda pode se tornar mais séria, já que corre o risco de comprometer a parte das articulações. Se a pessoa fica muito tempo sem abrir e fechar a boca, a articulação temporomandibular vai atrofiando e os ligamentos vão enrijecendo, o que pode levar a perda da capacidade do músculo de mastigar. "Existe um disco articular que é lubrificado nessa parte e ele vai perder isso. Com isso, a pessoa terá cada vez mais problemas no temporomandibular", afirma.

Já a nutricionista Edvânia Soares, especialista em Nutrição Clínica, Geral e Esportiva, deixa claro que, antes de mais nada, é preciso pensar no comportamento alimentar pois, quando isso é trabalhado, é possível se blindar de sensações e sintomas externos, como a compulsão alimentar, por exemplo. 

Então, segundo ela, não é literalmente fechar a boca que vai resolver o problema de comer demais, mas sim trabalhar o comportamento que leva a essa compulsão alimentar. "É ansiedade? Nervosismo? Irritabilidade? Olhar esses fatores externos para se blindar e, aí sim, trabalhar a questão da consciência na alimentação", completa.

QUER EMAGRECER? QUE SEJA COM SAÚDE
Deixar de abrir a boca não é a melhor das opções para perder peso, mas será que há um caminho mais tranquilo e menos 'doloroso' para chegarmos ao peso desejado? Já vamos logo avisando que não dá para esperar um milagre.

A nutricionista explica que, quando se pensa em emagrecimento, é importante aumentar o valor nutricional e fazer uma dieta mais de qualidade, e nem tanto de quantidade. Para isso, é preciso apostar em alimentos naturais e com menor valor calórico, diminuir os processados e ultraprocessados, além de reduzir o sódio nas refeições. “Não existe segredo, é simplesmente usar alimentos com benefícios a seu favor”, avalia.

Além disso, ela faz um alerta para aqueles que costumam fazer jejuns ou dietas muito restritivas. “O que manda é muito a outra refeição. Então, às vezes, você faz jejum por muito tempo e, quando chega na próxima refeição, eleva o consumo calórico e o índice glicêmico dos alimentos. Ou seja: de nada adiantou", alerta.

E nada de esquecer da água, hein! É preciso cuidar bem da hidratação e tomar a quantidade recomendada. E tem um cálculo fácil para isso: 35ml de água por quilo de peso corporal. Para uma pessoa de 70 kg, por exemplo, é recomendado tomar 2,4 litros de água por dia. “Isso vai garantir a absorção das vitaminas hidrossolúveis, do complexo B - que ajudam na manutenção da massa muscular-, e da vitamina C, que é antioxidantel", conclui.   

Optar por uma alimentação com mais qualidade é o melhor caminho Foto: Louis Hansel para Unsplash

SÓ QUER SER SAUDÁVEL MESMO? TÁ TUDO BEM, TAMBÉM!              
Dani Rudz revela ter se escondido por anos de encontros com ex-colegas da escola e da faculdade por acreditar que, por ser gorda, não poderia estar lá. Além disso, já deixou de comprar roupas por muito tempo, prometendo para si mesma que só o faria quando emagrecesse. “Eu me puni e achei que isso era normal, era aceitável. Mesmo sabendo dos motivos que me levaram a engordar. O padrão nos faz acreditar que somos menos e não merecemos pertencer e viver em felicidade plena”, afirma.

Mas a empresária percebeu que existia outro caminho, e o ‘estalo’ veio quando o filho ainda era pequeno, na primeira vez em que foram à praia juntos. “Ele queria brincar na água, mas quem fazia isso era meu ex-marido. Eu não entrava no mar, ia à praia de shorts jeans e camisetão, me escondendo o máximo possível. Naquele dia, porém, me questionei até quando iria deixar de viver esperando o dia em que fosse magra”, relata.

E foi justamente isso que levou Dani a pensar em tudo o que estava deixando de fazer por acreditar que não podia e não merecia. Foi aí que ela decidiu mudar de atitude. “Não foi fácil e nem rápido. Não é um botão que se aperta e decide se amar agora. É um aprendizado e que ainda vai contra tudo que aprendemos na vida e que absorvemos diariamente. Até hoje sigo nesse processo. A cada dia me questiono mais e descubro que há muito mais para se respeitar e se aprender”, ela diz.

Rudz alerta ainda que, infelizmente, existe um grande número de profissionais da saúde que não são especialistas e que não se atualizam quando o assunto é obesidade, chegando a ser levianos, como dizer que a pessoa é gorda apenas por comer demais e porque é preguiçosa.

“Quem estuda de fato a obesidade já sabe que é uma doença multifatorial, com fatores genéticos, ambientais e sociais associados. Além disso, o tratamento envolve equipe multidisciplinar, medicações e várias ações para auxiliar de fato o paciente”, completa a empresária.

"A sociedade se organizou para excluir o diferente e a mídia reforça esse estereótipo", diz Dani Rudz Foto: Instagram/ @danirudz

NÃO PRECISAMOS DE “CORPOS PERFEITOS”
É isso mesmo! Por que será que é tão difícil aceitar características e biotipos que costumam ‘fugir’ dos ‘padrões’ impostos pela sociedade? Segundo Rudz, nós não somos educados e preparados para encarar a vida com realidade, nem ensinados a lidar com frustrações, sentimentos ou imperfeições. 

Ela explica que o individualismo nos leva a uma grande competição desde pequenos e,  para sair na frente, já na primeira infância, a arma escolhida é ‘atacar’ o diferente. E isso durante muito tempo foi estimulado, encorajado e até hoje acontece de maneira camuflada.

“E assim seguimos a vida competindo e nos punindo. Quando adultos, nos deparamos com o tal ‘padrão’. E a máxima é: se encaixar para prosperar. E seguimos em um piloto automático sem fim. O padrão midiático e a indústria da beleza ainda reforçam as insatisfações pessoais nessa fase, dando o combo perfeito: se odiar para viver”, reflete. 

Dani destaca ainda que, felizmente, as novas gerações vem trazendo reflexões sobre essas amarras. Entretanto, ela acredita que ainda somos achatados por preconceitos e falta de amor-próprio o tempo todo.

‘PADRÃO’... ESQUEÇA ISSO!
Não nos ‘encaixar’ nos ditos ‘padrões’ pode, sim, influenciar negativamente na aceitação e autoestima. Tanto que, segundo a empresária, esse padrão de beleza, de vida e de história que é reforçado pela sociedade e criado na mídia, nos leva a acreditar que nunca somos o suficiente para nós mesmos e para os outros. É, na verdade, uma cultura de desvalorização que acaba por excluir o diferente.

“Pare para pensar! Passamos anos escondendo negros, deficientes físicos, pacientes com transtornos mentais, gordos, pessoas com baixa estatura. A sociedade se organizou para excluir o diferente. E a mídia reforça esse estereótipo todos os dias fortemente. O diferente é cota e tolerado só neste contexto”, enfatiza.

Além disso, agora tem também as redes sociais, né? Ao abrir o Instagram, quem nunca se deparou com uma sequência de fotos de mulheres com um shape aparentemente perfeito na timeline? Barriga chapada, bumbum sem celulite e por aí vai. Muitas vezes, esses cliques foram tirados em um ângulo favorável e com uma boa luz, criando a 'imagem perfeita'. E é aí que mora o perigo das comparações.

“A internet reflete esse achatamento não somente na maioria das imagens postadas. O algoritmo, que é definido também pelo comportamento do usuário, exclui a todo o tempo o que não é padrão”, explica Rudz, ressaltando acreditar que o início do caminho para fugir das comparações é parar para pensar e se questionar sobre o que há em volta, olhando verdadeiramente para as pessoas, aplicando a empatia a todo instante e aceitando as escolhas e condições do outro. 

“Se aceitar como se é não é fácil. Todo dia e toda hora tem alguém disposto a te dizer que você está errado. Opiniões pessoais, anúncios nas revistas, propagandas na tv, novelas, filmes, livros, redes sociais e muito mais. Mas raramente essas opiniões são, de fato, uma preocupação, mas sim uma desculpa para tratar com ódio o que não é igual”, conclui.