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Exclusivas / Inspiração

Contrariando a maioria das estatísticas, mulher realiza o sonho de ser mãe aos 43 anos

Após diversas tentativas falhas e muitos percalços, professora e marido conquistam a maternidade

Marina Borges

por Marina Borges

mborges_colab@caras.com.br

Publicado em 12/05/2023, às 18h43

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Contrariando a maioria das estatísticas, Adriana realizou o sonho de ser mãe aos 43 anos - Arquivo pessoal
Contrariando a maioria das estatísticas, Adriana realizou o sonho de ser mãe aos 43 anos - Arquivo pessoal

Algumas mulheres simplesmente nascem com o instinto materno aguçado. Muitas, inclusive, sonham com a maternidade. Não dá para explicar ao certo o que faz cada uma sentir o que sente, mas algo é certo: a história que vamos contar nos aproxima desse sentimento materno.

Indo contra as estatísticas — que Claudia Raiamostrou que não são a regra —, Adriana Kátia Araújo deu à luz aos 43 anos. E, embora tenha finalmente conquistado o sonho de ser mãe, o caminho contou com muitos percalços, que incluiram um casamento, um divórcio e um novo casamento com o ex-marido, além de inúmeras tentativas de ter um filho juntos. Neste Dia das Mães, AnaMaria traz essa história para você se inspirar!

O COMEÇO DE TUDO

Adriana sempre quis construir sua família, e seu sonho parecia que estava prestes a se tornar realidade aos 17 anos, quando se casou com Osmair, que tinha 19 anos na época. Ao lado dele, enfrentou situações difíceis, como a gravidez química — quando o embrião consegue se implantar no endométrio e acaba produzindo o hormônio da gravidez, mas o processo de fecundação não ocorre de forma correta. 

Contudo, apesar de nunca ter ficado evidente o motivo, Adriana não conseguia engravidar. “Não acontecia, mas eu nunca deixei de procurar, sempre fui atrás de tratamentos, dentro dos meus recursos, do que eu podia fazer. E eu sempre ouvia aquela máxima de ‘Você deve estar ansiosa, já vai acontecer’”, conta.

E esse “diagnóstico” não veio de pessoas próximas, mas de médicos especialistas. Adriana teve que lidar com a culpa que sentia, a qual muitas vezes foi reafirmada por profissionais que deveriam investigar e propor soluções respaldadas na medicina. Nunca nenhuma condição médica foi apresentada.

Aconteceram crises dentro do relacionamento e muitas vezes eu me culpava porque, quando um casal não tem filhos, automaticamente a culpa recai sobre a mulher e, naquela época, isso era ainda mais forte. A culpa já estava comigo mesma. Aquela pressão fez com que chegasse um momento de sentir a necessidade de me separar do meu marido, porque eu pensava assim: ‘Se eu não vou conseguir, eu pretendo que ele realize esse sonho de alguma maneira’”, desabafa.

Nesse período, Adriana e seu esposo realmente se separaram. Nesse meio tempo, ela foi buscar sua formação acadêmica: decidiu cursar pedagogia. Sem recursos financeiros, Adriana vendia artesanato para pagar os estudos. Recém-formada, aos 31 anos, logo passou em um concurso público e começou a dar aula.  Já trabalhando em jornada dupla como professora, a vontade de estar junto de Osmair e de construir uma família falou mais alto. Foi quando o casal decidiu voltar e tentar de novo. Para isso, os dois juntaram suas economias e forças. 

Entendemos que queríamos ficar juntos e decidimos lutar para tentar uma fertilização. Esse período foi difícil também, porque mesmo trabalhando dobrado, sabíamos que ter um filho não poderia ser o nosso único foco. Não dá pra pensar em somente ter o filho e não ter nenhum respaldo depois. Eu estava jogando todas as minhas fichas”, fala de forma lúcida.

UMA LUTA QUE TRAVOU SOZINHA POR MUITO TEMPO

Muito por conta da forma como os homens são criados, ensinados que precisam ser fortes o tempo todo e que mostrar vulnerabilidade é sinal de fraqueza, Adriana só conseguiu falar mais abertamente sobre o assunto com o marido durante o tratamento com um especialista.

Ele não me culpava, mas não falava sobre esse assunto. Era um desejo dos dois, mas quando eu fazia planos para o futuro, ‘imagine nós aqui na praia, brincando ali’, ele tentava demonstrar um uma certa vontade nesse sentido de acreditar, mas ficava com o pé atrás”, conta. Além de não ter abertura para falar disso com o companheiro, Adriana se via sem ter como falar sobre isso com a própria família e amigas. “Internamente fica uma culpa, uma vergonha de se assumir com uma dificuldade na qual todo mundo acha que o problema é você. Experimentei um sentimento de culpa. Estava sozinha, porque não compartilhava, não encontrava os iguais. Não tinha par”, revela.

LITERALMENTE UM SONHO

Uma maneira de Adriana lidar com a culpa e se sentir mais próxima do seu sonho foi crer em algo maior — o que sempre guiou seus passos. “Um pouco antes da separação, tive um sonho que falava sobre isso. E no meu sonho, eu estava amamentando e, quando acordei, senti toda aquela sensação de quem está amamentando. Hoje, sei porque passei por isso depois, mas até aquele dia eu nunca tinha vivido isso”, conta Adriana, visivelmente emocionada.

Ela continua: “Só falei lá no meu trabalho que eu havia sonhado e passou. Depois de algum tempo, uma uma pastora que esteve na igreja que minha mãe frequenta foi convidada para almoçar na casa da minha mãe e eu estava presente. Durante a oração, ela me disse: ‘Aquela criança que você viu no seu sonho é o seu neném’.”

De alguma forma, esse sonho fez com que Adriana tentasse de novo. Aos 36 anos, a professora determinada foi atrás, junto do marido, angariar recursos para realizar o tratamento de reprodução assistida, cujo custo é alto. “Eu entendi, de verdade, que não queria deixar para trás um sonho tão importante para mim, não queria que ele morresse somente porque eu não tinha recurso financeiro.  Pensava assim: ‘se tem a possibilidade, vamos buscar’”, conta.

Foto: Arquivo pessoal

O TRATAMENTO

Deixando de lado a opinião de muita gente, com fé e o respaldo de profissionais especializados em fertilização, Adriana e o marido apostaram na tentativa de realizar o sonho novamente. O recurso financeiro que possibilitou o acesso ao tratamento chegou quando Adriana estava com 41 anos, uma idade considerada avançada para a gestação de um bebê.

Mesmo com a questão matemática desfavorável, ela e o marido saíram muito confiantes depois da primeira consulta. O primeiro passo rumo à concretização do sonho da maternidade estava dado. “Foi uma vitória. Eu pensava assim: ‘Deus, obrigada por tudo que eu vivi, todo o percurso valeu a pena porque hoje nós estamos aqui buscando essa resposta’”, conta. 

NÃO FOI FÁCIL

Dividindo-se entre o trabalho e o tratamento, Adriana foi coletar seus óvulos aos 41 anos. De acordo com o médico, poderia ser um, dois ou nenhum óvulo. O único que sabia do tratamento era seu marido, pois os dois quiseram viver o processo sem muita interferência. “Quando fui fazer a coleta dos óvulos, imaginava que não seriam muitos por conta da minha idade. Mas o procedimento demorou muito mais do que o normal. Em vez de zero, um ou dois óvulos — que era a estimativa — havia 60 folículos maduros. Meu corpo respondeu de um jeito absurdo”, conta entusiasmada. "Saí dali com o coração cheio de esperança porque eram 40 possibilidades.

Após a boa notícia, Adriana estava confiante de que tudo daria certo na primeira tentativa. Foi o momento que abriu o jogo para a própria mãe sobre o tratamento e, posteriormente, para toda a família. No entanto, o resultado do teste foi negativo. “Eu me senti muito mal, achei que fosse ficar mais firme, mas caí muito profundamente em choro. Eu vi a depressão estar muito perto. Me senti mal, mas ao mesmo tempo pensei: ‘vamos tentar de novo’”, conta.

Na segunda tentativa, o resultado também não foi o esperado, mas como da primeira vez, desistir não era uma opção. Rumo à terceira tentativa, Adriana sofreu um acidente de trabalho e rompeu o ligamento do tornozelo, foi quando precisou entrar com uma medicação que impediria que o tratamento fosse seguido. "Foi um novo balde de água fria, pois cheguei a ficar um período de cadeira de rodas. Eu chorava muito, pois havia feito todo o protocolo de medicação para receber o embrião e, no meio do caminho, teve um acidente que me impediu de concluir aquilo”, relembra.

MÚLTIPLAS TENTATIVAS

Após um tempo, já recuperada, Adriana tentou novamente. Na ocasião, os dois embriões correspondiam a uma menina e um menino. Saber o sexo dos bebês deu uma injeção de ânimo ao casal, que estava confiante novamente. “Não é só um embriãozinho congelado, tem uma vida. Eu já me sentia mãe”, revela Adriana. 

Deu tudo certo com a transferência do embrião, mas no momento de fazer o teste, aconteceu uma tragédia na família da professora, que perdeu o sobrinho afogado. “Foi um baque, por ser o segundo filho que minha irmã perdeu. Pensava ‘meu Deus eu não vou precisar nem fazer o teste porque certeza que não vai dar certo’. Acabou com o meu emocional.

Extremamente abalada, Adriana foi perdendo as esperanças. Muito mal, ela foi até o médico e decidiu que queria desistir do tratamento, cujo último teste voltou a dar negativo. “Eu não queria nem falar mais sobre esse assunto, não queria mais viver isso. Parecia que eu tinha chegado no final do meu sonho. E virou um pesadelo horroroso, porque nada dava certo”. Osmair respeitou a decisão da esposa e demonstrou muito apoio. “Isso me deixou muito tranquila. Era um luto de muitos anos, eu estava de novo enterrando aquilo”, lamenta. Achando que talvez a maternidade não fosse para ela, Adriana estava começando a pensar em deixar seu sonho para trás. 

RECOMEÇO

No entanto, parecia haver uma luz. Atuando há 5 anos como professora na rede pública de ensino, Adriana ganhou o direito de tirar uma “licença premium” por conta do tempo trabalhado — ela poderia se afastar dos seus dois trabalhos por um mês. Sem tanto estresse e pressão, somados à bomba de hormônios que estava tomando, pareceu o momento ideal para uma nova tentativa de realizar seu sonho.

Determinada, Adriana retornou ao médico, pronta para voltar a fazer o tratamento. Na quarta tentativa, levantando a possibilidade de que o problema poderia estar na dificuldade do endométrio engrossar, foi realizado um procedimento diferente: o plasma rico em plaquetas (PRP). 

A partir dele, o endométrio, que estava fino, começou a engrossar e, consequentemente, a confiança foi dando as caras de novo. Tudo estava sendo feito com cuidado dobrado na quarta vez.  “O protocolo para sua idade é de até quatro embriões, mas vamos colocar três para diminuir os riscos, afinal, uma gravidez com muitos bebês pode pode ser uma gravidez não muito tranquila”, apontou, na época, o médico de Adriana. 

Já preparada para fazer a transferência dos embriões, uma surpresa apareceu. Foi identificado a partir da biópsia que um embrião não sobreviveu ao descongelamento e outro estava faltando cromossomos, fazendo com que ele fosse descartado. Assim, restou apenas o último — um menino. Antes de fazer o teste, a certeza de que o resultado tão esperado viria veio por uma mensageira totalmente inesperada. “Estava comendo pastel e uma senhora sentou do meu lado, ficou me encarando e me perguntou: ‘Quanto quantos filhos você tem?’. Eu respondi que não tinha nenhum. Aos gritos na pastelaria, colocando a mão na minha barriga, a senhora disse: ‘Glória a Deus! É o senhor que está pedindo para eu te falar. Então eu vou falar: você não tinha. Deus entregou o seu menino’”. 

Chorando e tremendo, Adriana respondeu que, então, o receberia. “Eu não sei explicar. Foi um foi um encontro espiritual que me transformou, sabe? Entendi que eu nunca estive sozinha, que todo o processo é justificável. Precisava viver aquilo de alguma maneira”, conta. 

Foram diversos testes de farmácia para realizar o sonho de ver os dois traços no visor. “Eu fui fazer um teste e deu positivo, aí fiz mais um e continuou dando positivo. Queria fazer teste toda semana, só para ficar guardando os positivos”, recorda, feliz. Adriana conta, animada, que a gestação de Theo — seu filho que hoje tem três anos — foi muito tranquila. “Contar pra minha família, minha sogra, minhas cunhadas, pro meu marido foi muito especial também. Eu contei pro Osmair no dia seguinte e ele ficou em choque, falava o tempo todo pra mim: ‘Você fez o teste? Mas você fez o teste? Você não está falando da boca pra fora?’”, compartilha.

Após tantos anos de luta e espera, Adriana finalmente pôde viver, aos 43 anos, o sonho que vivia há tanto tempo. Hoje, ela percebe que tudo o que passou até esse momento compensou. Finalmente mãe. “O Theo me mostra todo dia que valeu a pena. Vivemos 27 anos sem ele e, hoje, a gente não fica nem uma hora longe, porque a vida e a casa ficam vazias. Não sei explicar, parece que ele sempre existiu. De alguma forma, ele sempre fez parte da nossa história”.

Foto: Arquivo pessoal