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Família/Filhos / Educação

Dicas práticas para tornar o aprendizado na escola mais leve

Aprenda a lidar melhor com questões como atenção, foco e autocobrança ao longo da fase escolar

Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 21/04/2023, às 08h30 - Atualizado às 08h31

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Quando não conseguem se concentrar, nem manter o foco, o estudante têm mais dificuldade para aprender. - elements5/unsplash
Quando não conseguem se concentrar, nem manter o foco, o estudante têm mais dificuldade para aprender. - elements5/unsplash

As escolas estão finalizando apenas o primeiro bimestre, mas já é possível perceber dificuldades de aprendizagem nos alunos. E é, neste momento, ainda no início do ano letivo, que pais e professores precisam se conectar para tornar os meses mais tranquilos para as crianças conseguirem aprender e cumprir os objetivos de cada etapa escolar.

Pode parecer cedo, mas o segredo para evitar os desgastes relacionados às notas e avaliações é começar a rotina de estudos desde o início das aulas. Por isso, os responsáveis precisam estar atentos ao cronograma de atividades dos alunos para que o decorrer do ano seja tranquilo e que as decepções com notas baixas e indesejadas, ou até mesmo recuperação e reprovação, possam ser evitados.

Aproveitando o momento comemorativo do Dia da Educação (28 de abril), a coluna de hoje traz dicas simples para ajudar os alunos e seus responsáveis a lidarem melhor com questões como atenção, foco, autocobrança e ansiedade ao longo da fase escolar em que os filhos estão.

PARA COMEÇAR: COMO MELHORAR A ATENÇÃO?

A falta de atenção é uma dificuldade que pode se apresentar ao longo da vida, mas é especialmente comum em crianças em idade escolar. Isso acontece porque elas ainda estão em processo de desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, incluindo a capacidade de concentração e atenção.

Quando elas não conseguem se concentrar, nem manter o foco, têm mais dificuldade para aprender e absorver conhecimentos. Essa falta de atenção, inclusive, pode afetar sua capacidade de se envolver e interagir socialmente e desfrutar de atividades cotidianas.

Para Cristhiane Amorim, pedagoga com pós-graduação em neurociência educação e desenvolvimento infantil, que atua como especialista em educação na rede Kumon, é importante que os pais e cuidadores estejam atentos aos sinais de falta de atenção nas crianças e procurem maneiras de ajudá-las a desenvolver habilidades de concentração e atenção.

A pedagoga conta, ainda, que a exposição precoce às telas e o excesso de estímulos com eletrônicos podem prejudicar o aprendizado e a capacidade de concentração das crianças. “O exagero pode afetar a aptidão de memorizar e reter informações que são importantes para a realização de tarefas comuns do dia a dia. Cabe ao adulto conseguir dosar e impor limites, incentivando outras atividades, como brincadeiras ao ar livre e leitura de livros”, esclarece a Cristhiane.

Na sequência, Cristhiane dá algumas dicas que podem ajudar a melhorar o foco das crianças:

  1. Crie um ambiente livre de distrações: remova dispositivos eletrônicos e brinquedos, por exemplo, do ambiente de estudo. Isso pode ajudar a minimizar as distrações e facilitar a concentração;
  2. Estabeleça rotinas: promover hábitos diários que incluam tempo dedicado ao estudo e à realização de tarefas ajuda a estabelecer um senso de ordem, sem que ela queira deixar algo para terminar depois;
  3. Incentive: ofereça recompensas, como algo que a criança goste de fazer em família, como um passeio juntos ao parque; e elogie os pequenos quando eles se concentrarem e realizarem uma tarefa com sucesso. Isso reforça um comportamento positivo e o estimula a continuar se esforçando;
  4. Busque atividades lúdicas: quebra-cabeça, jogo da memória e xadrez são boas opções que podem contribuir para a melhora do foco e concentração. Mas é importante lembrar que cada criança é única e pode responder melhor a diferentes abordagens. “O importante é ser paciente e oferecer suporte e incentivo à criança, respeitando o seu ritmo, contribuindo para o desenvolvimento de suas habilidades.

APOIO DOS PAIS É FUNDAMENTAL

A pedagoga Carolina Paschoal, que é diretora da Escola Pedro Apóstolo, aponta a necessidade de rotinas de estudo e acompanhamento de perto dos responsáveis para evitar problemas ao longo do ano. A especialista lembra que estudar não se resume a estar em sala de aula, nem mesmo a se preparar para um exame, por exemplo.

“Por mais que seja válido reforçar conteúdos nas vésperas de uma avaliação, o ato de estudar deve ser
praticado todos os dias. E a participação dos pais e responsáveis nesse processo é necessária para orientar os alunos fora do ambiente escolar”, afirma.

Abaixo, Carolina lista nove dicas para os pais ajudarem os alunos nos estudos:

1 - Monte um cronograma: todos os dias, após as aulas, os estudantes voltam para casa com algum conhecimento novo ou uma atividade solicitada pelos professores. Para que tudo não fique acumulado para a última hora, nem os estudos diários sejam perdidos, é importante que os alunos tenham um cronograma e dividam o horário em casa conforme as demandas repassadas em sala de aula. "Os pais ou responsáveis podem ajudar as crianças e adolescentes a definir as prioridades do dia, para que saibam se organizar. O cronograma possibilita que as atividades sejam distribuídas ao longo do dia ou mesmo da semana, com horários para cada disciplina e atividade. Isso é importante até mesmo para que o aluno aprenda a ser organizado em outras situações";

2 - Estude em um ambiente tranquilo: para estudar, é necessário silêncio e evitar distrações. Por isso, segundo a pedagoga, é importante que o aluno tenha um local definido para desenvolver suas atividades, ler as anotações feitas em sala ou mesmo retomar o que aprendeu na escola. "A criança ou adolescente precisa de um lugar que não se misture com distrações. Mesmo quando o espaço é limitado, encontrar um lugar onde se possa colocar e consultar os livros, cadernos e estojo já ajuda nesta organização. Ter boa iluminação, circulação de ar e acesso à internet (quando for possível e necessário) são algumas das características que auxiliam nesta rotina. As pessoas da família podem também contribuir para isso com o silêncio no momento do estudo do aluno";

3 - Faça pausas durante o estudo: dentro do cronograma, o estudante também precisa das pausas para descansar a mente e o corpo. Nestes momentos, pode estar incluso, por exemplo, um lanche, um alongamento, um pequeno exercício físico ou até um momento de conversa, brincadeira e distração com um irmão. Mas é sempre bom lembrar: o momento de descanso não deve se prolongar muito, principalmente se o estudante tiver alguma demanda urgente ou extensa para resolver. "Descansar é necessário para continuar a aprendizagem. Mas a pausa não pode gerar um ambiente em que o aluno se sinta à vontade para deixar o estudo totalmente de lado no restante do dia";

4 - Use a tecnologia a seu favor: falar em vídeos no YouTube ou em outros aplicativos e redes sociais para crianças e adolescentes pode parecer “chover no molhado”, pelo domínio que eles têm das ferramentas. Contudo, os estudantes precisam utilizá-las a seu favor na hora dos estudos. "Os pais e responsáveis podem incentivá-los a utilizar esses aplicativos e ensiná-los a pesquisar informações relacionadas à disciplina em questão”, diz a pedagoga. Os alunos ainda podem usar as ferramentas de inteligência artificial para formular e responder perguntas e jogos online que auxiliem na fixação dos conteúdos. “E sempre é bom lembrar as crianças e adolescentes que os livros didáticos permanecem como uma ferramenta necessária no dia a dia, mesmo que a internet tenha muitos recursos";

5 - Manter as redes sociais longe na hora de estudar: Caso perguntássemos às pessoas adultas, que utilizam redes sociais, se acham que elas lhes distraem das obrigações cotidianas, certamente teríamos uma porcentagem altíssima afirmando que sim. Com as crianças e adolescentes funciona da mesma forma: “os estudantes possuem um cérebro imaturo e em desenvolvimento. Por este motivo é ainda mais difícil para eles imporem limites do uso do sedutor universo da internet. Um simples acesso ao celular pode durar horas e horas, interrompendo de forma permanente o momento de estudo. Por isso, manter o aparelho longe pode ser um favor que os pais fazem aos filhos”;

6 - Realizar as lições de casa periodicamente: é comum que ao final da aula os professores passem aos estudantes atividades para casa relacionadas ao conteúdo estudado na aula. Realizá-las pode significar reforçar o conteúdo trabalhado em sala de aula. Principalmente para aqueles alunos que não conseguem ter rotina de estudo diária, a lição de casa acaba por ser o único instrumento que os ajudará a ter contato com o que foi estudado na escola. “Responder, por exemplo, perguntas relacionadas aos temas dos conteúdos, realizar uma resenha crítica ou qualquer outra proposta mencionada pelo professor em forma de lição de casa pode ser sim um instrumento importante de estudo em casa, além de ser uma forma regular para acompanhar como está ocorrendo a aprendizagem. Em caso de não conseguir realizar as lições de casa, esse pode ser sim um sintoma de que a aprendizagem não está
ocorrendo de forma significativa para o estudante”;

7 - Acompanhe a rotina do aluno: Durante as horas de estudo, os pais e responsáveis precisam estar atentos ao que os filhos fazem. Mesmo que isso não seja possível durante todo o dia, devido ao trabalho que muitos têm fora de casa, os adultos podem tirar alguns minutos do dia para saber como estão os estudos das crianças e adolescentes. "Quando estiver em casa, chame o estudante para conversar sobre o dia de aprendizagem e peça para ver seu caderno e materiais didáticos. Mostrar interesse pela rotina de sala de aula e das atividades em casa é uma forma de ajudá-los a seguir caminhos, tirar dúvidas que eles tenham guardado ou solucionar dificuldades";

8 - Mantenha contato com a escola: quando necessário, os pais ou responsáveis podem agendar horários com a coordenação pedagógica para falar sobre o estudante. "Este contato ajuda a solucionar alguma questão que o adulto tenha identificado em casa ou mesmo para saber dos profissionais da educação como está a evolução das crianças e adolescentes nos estudos. É sempre bom lembrar: a educação não envolve somente aluno e professor, mas toda a comunidade escolar e também a família";

9 - Se precisar, acione aulas de reforço: Se os adultos perceberem que o estudante não consegue solucionar atividades sozinho e encontra dificuldades com alguma disciplina, talvez seja o momento de acionar a escola e procurar as aulas de reforço, que, em alguns casos, acontecem em contraturno. "A identificação desta necessidade vem justamente porque os pais ou responsáveis acompanham de perto a rotina dos alunos e têm contato regularmente com a escola".

CLIMA ESCOLAR POSITIVO FAZ A DIFERENÇA

Outro ponto importante diz respeito à construção de um clima escolar que ajude a recompor as aprendizagens e a enfrentar as desigualdades. De acordo com Érica Catalani, coordenadora de programas e projetos do Cenpec, o clima escolar diz respeito ao conjunto de percepções e expectativas compartilhadas por estudantes, professoras(es), gestoras(es), famílias e demais funcionárias(os) da escola. Também converge com a proposta de educação integral, agenda prioritária das políticas para a educação básica nos próximos anos.

“O clima escolar tem forte ligação com essa concepção de educação mais ampla, que não se restringe aos aspectos cognitivos e, por sua vez, envolve o desenvolvimento pleno das relações interpessoais, de vivência democrática, plena de respeito ao outro e ao ambiente no qual vivemos”, afirma a especialista.

Atualmente, existem estudos que mostram que quanto mais positivo é o clima escolar, melhor é o desenvolvimento das aprendizagens desses meninos e meninas, incidindo, inclusive, na diminuição da evasão escolar. “Se o estudante se sente aceito nesse ambiente, se é acolhido em seu processo de desenvolvimento, em sua trajetória escolar ímpar, a tendência é que não queira desistir dos estudos e abandonar a escola”, defende Érica.

E quais são os pontos necessários para se construir um clima escolar mais positivo e comprometido com a diminuição das desigualdades educacionais? Para a especialista, dentre os diversos fatores, é fundamental considerar esses cinco elementos:

1. Estabelecer relações de cuidado e confiança: é fundamental que a gestão escolar esteja atenta às relações entre alunas(os), entre elas(es) e professoras(es), do corpo docente com a gestão e demais profissionais da escola, e também com as famílias e o entorno. Com isso, a escola proporciona um espaço de pertencimento, respeito, segurança e acolhimento, ajudando a prevenir e a identificar situações de risco e violência, dentro e fora dela. “O clima escolar extrapola a sala de aula e o ambiente escolar. Isso envolve, também, a comunidade do entorno. Então, estabelecer relações com esses atores é importante, visto que a escola não está alheia à realidade, mas faz parte dela”;

2. Ter uma boa comunicação: por vezes, as frustrações e conflitos gerados decorrem da falta de comunicação entre as pessoas que fazem parte da comunidade escolar. “Para ter um clima positivo, é preciso ter uma comunicação assertiva, para que as expectativas de cada pessoa sobre as atividades, as rotinas, as regras estejam evidentes, transparentes e altas - principalmente em relação à aprendizagem”;

3. Incentivar processos de gestão democrática: instituir espaços de escuta e participação de alunas(os), familiares, professoras(es) e demais profissionais da escola é fundamental, e tem relação direta com o aspecto citado anteriormente. “Fazer uma reunião de pais em um só dia, por exemplo, pode acabar excluindo um outro grupo de familiares que não puderam estar presentes naquele horário. É preciso fomentar mais de um espaço de participação”;

4. Estimular a inovação e uma nova postura em relação ao erro: é importante saber que errar faz parte, principalmente neste momento em que muitas escolas lidam com o desafio da recomposição de aprendizagens. Somente com essa percepção sobre o erro teremos a inovação presente e a escola poderá contar com diversos recursos e caminhos de aprendizagem, a partir das necessidades e condições de cada território. O fato é que, nesse percurso, nem tudo costuma sair como foi planejado. “Inovação pressupõe acolhimento, aprender a lidar com o erro. Isso é parte importante do desenvolvimento - tanto por parte da(o) aluna(o), como das(os) professoras(es) lidando com os erros das(os) estudantes. É preciso ter um olhar formativo para as(os) docentes e que estas(es) estejam abertas(os) para acolher eventuais erros das(os) estudantes”;

5. Construir um bom clima escolar: a construção de um bom clima escolar não quer dizer ausência de conflitos, mas aprender a identificar e lidar, da melhor forma possível, com as situações cotidianas que surgem no ambiente escolar. Além desses quesitos supracitados, isso é possível também a partir de outros recursos, como levantamentos diagnósticos e a construção coletiva de combinados. “As pessoas acham que o clima escolar existe independente da ação delas, mas é justamente aí, na ação de cada uma(um) junto ao coletivo, que esse clima é construído. Um clima escolar positivo é resultado de ações
intencionais e colaborativas. Não tem como promover a equidade educacional sem um olhar
atento para o clima escolar”.

QUANDO BUSCAR AJUDA?

Cada estudante desenvolverá com a escola uma relação única. Muitas vezes, a falta de interesse na escola está diretamente ligada a aspectos que não são apenas comportamentais, como dificuldade de aprendizagem, dificuldade de atenção e concentração, dificuldade na coordenação motora ou até mesmo alguma alteração no processamento sensorial. O que poderia frustrar a experiência escolar, hoje, já encontra técnicas e profissionais qualificados para promover um ambiente adequado às diferenças de cada um. Para Daniele Bacellar, terapeuta ocupacional da Holiste Psiquiatria, a criança
que apresenta dificuldade em copiar o dever na sala de aula, por exemplo, parte a evitar realizar essa tarefa, limitando a participação na classe. O papel da terapia ocupacional aqui é o de não culpabilizar o estudante por suas particularidades, mas de encontrar estratégias para promover a independência, a autonomia e o bem-estar necessário para que seja possível aprender e conviver naquele ambiente.

"Atualmente, os Terapeutas Ocupacionais têm sido chamados para atuar no ambiente acadêmico, especialmente com crianças e adolescentes com TDAH e TEA. É possível confeccionar ou indicar utilização de recursos para adaptações, como plano inclinado, lápis e canetas com diâmetro maior, exercícios lúdicos, órteses, pautas ampliadas, textos emborrachados, computador, enfim, uma série de alternativas de acordo com os desafios de cada um. O profissional pode atuar como facilitador da relação entre escola, aluno e família, possibilitando o desenvolvimento e a inclusão desses sujeitos no processo", aponta. 

Na maioria dos casos, os próprios educadores comunicam caso a criança ou o adolescente esteja com dificuldade de se adaptar à rotina escolar, mas, mesmo assim, existem alguns comportamentos que sinalizam a necessária presença de um profissional de saúde mental, mesmo que o atendimento psicológico possa estar presente mesmo antes. A seguir, Bacellar aponta alguns sinais de alerta:

1. Sinais intensos de desconforto na escola, como choros, dificuldade de lanchar e socializar, por mais de 3 meses após o início das aulas;

2. Muita ansiedade, sintomas como preocupação exacerbada com a escola, dificuldade de dormir ou cansaço extremo, taquicardia; 

3. Criança ou adolescente se machucando, vomitando e chorando frequentemente na escola, enquanto longe dos pais.

E atenção: é fundamental que os responsáveis, ao identificar estes sinais, não minimizem o sofrimento, mas encarem como um indício de que é preciso buscar ajuda para superar estes desafios, sejam de ordem emocional ou de outro aspecto, como a dislexia, o déficit de atenção, entre outros. Quando o assunto é saúde mental, a informação é o primeiro passo do tratamento.

Em tempo: transformar a escola em um aliado na educação do filho não quer dizer que pais e responsáveis estejam delegando seu papel, mas que é necessário atuar em conjunto e colaboração para que seja possível conquistar os melhores resultados na educação das crianças. Ter esse canal aberto proporciona um melhor suporte para possíveis dificuldades dos nossos filhos e para que possamos buscar soluções e apoio, se for o caso. Então, vale marcar reuniões e questionar a escola, sempre que necessário, e mesmo quando não parece ser.