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Famosos / ENTREVISTA

Fabiana Karla fala sobre carreira, autoaceitação e gordofobia: ‘‘Pode levar à morte’’

Em entrevista exclusiva, atriz relembra os principais papéis no cinema e na televisão

Karla Precioso Publicado em 08/05/2021, às 08h00

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Aos 45 anos, estreiou o filme 'Lucicreide Vai Pra Marte' - Instagram/@fabianakarlareal
Aos 45 anos, estreiou o filme 'Lucicreide Vai Pra Marte' - Instagram/@fabianakarlareal

Fabiana Karla é atriz, humorista, apresentadora, dubladora, diretora e escritora. Pernambucana, começou a carreira aos 14 anos e ficou conhecida do público quando ingressou no elenco do Zorra Total, em que criou os bordões ‘Isso não te pertence mais!’, ‘Desenrola, carretel’ e ‘Isso pode’, vivendo Gislaine, Dra. Lorca e Lucicreide. Também marcou presença nas novelas Gabriela, Verão 90 e Amor à Vida, e interpretou Dona Cacilda na nova versão da Escolinha do Professor Raimundo, tudo na Globo. 

Lançou os livros O Rapto do Galo e Gordelícias. Participou ainda de seriados como A Grande Família e Linha Direta. No teatro, protagonizou a versão brasileira de Gorda. Em A Vida Em Rosa, além de atuar, realizou sua primeira produção. Já em Nessa Mesa de Bar, cantou sucessos do cantor pernambucano Reginaldo Rossi. Ao lado de Fernanda Gentil e Érico Brás, comandou diariamente o Se Joga, até março de 2020.

Tem mais. Apresentou o Falas Femininas, especial também da Globo para o Dia da Mulher. No cinema, estreou em 2003 no filme Marina. Depois vieram Trair e Coçar é Só Começar, A Máquina, Xuxa Gêmeas, O Palhaço, Meus Dois Amores, Casa da Mãe Joana 2, Loucas pra Casar e Tô Ryca.  A carreira segue em ebulição. Fabiana agora é a estrela da comédia Lucicreide Vai Pra Marte, com cenas rodadas na Nasa - a primeira produção desde Armageddon (1998) a ser filmada na agência espacial americana. 

Apesar de muito associada ao humor, é notória a sua versatilidade. A artista se reinventa a cada papel e, na vida real, também não faz por menos. Mãe de Laura, Samuel e Beatriz e casada com Diogo Mello, ela é uma otimista nata e nunca perde a esperança. Quando o assunto é autoestima? Ela dá uma lição! Linda e segura de si, Fabiana Karla deixa claro uma de suas grandes verdades: a beleza não precisa seguir padrões. “O corpo alcança o que a mente acredita. Minha relação com ele só melhora”, enfatiza. Palmas à estrela Fabiana Karla!

Confira a entrevista completa à AnaMaria:

A personagem dra. Lorca, do Zorra Total, é uma nutricionista às avessas. Você já fez alguma dieta maluca? 

Sim, já fiz muita dieta, e acho o maior risco da vida. De cada dez pessoas que conheço, oito já fizeram algum regime maluco. Dieta é coisa séria, para ser acompanhada por médico ou nutricionista. Hoje, eu acredito na reeducação alimentar. 

Embora não estivesse mais no Zorra desde 2016, foi lá que você se tornou conhecida do público. Sente falta do humorístico?

Cada momento tem sua etapa, sua duração. Foi um momento importante e de grande aprendizado. Também foi o que me tornou conhecida do público. Tenho saudades, mas entendo que o programa faz parte dos ciclos da vida, que têm começo e fim. Uma hora é preciso dar lugar a coisas novas, novos momentos e desafios. Como o filme Lucicreide Vai Pra Marte, que sem dúvida, foi uma experiência totalmente nova na minha vida. Quando eu ia imaginar que estaria filmando na NASA ou que eu ia flutuar no mesmo avião de gravidade zero onde Tom Cruise filmou?

Qual a importância da Lucicreide na sua carreira? 

A Lucicreide é meu pé de coelho. Não posso dizer que é a personagem que eu gosto mais porque seria injusto com as outras personagens, né [risos]? Eu tenho um carinho muito grande por ela porque a Lucicreide, na verdade, é uma forma de homenagem. Isso mesmo! Ela surgiu a partir das memórias que carrego de minha infância, das mulheres que me rodeavam naquela época... As mulheres que trabalhavam na minha casa, minhas tias, vizinhas, lavadeiras. Ela é um pouco de cada mulher nordestina com quem eu convivi durante um bom tempo de minha vida. Lucicreide é a minha homenagem mais sincera a todas as mulheres nordestinas, especialmente aquelas que rodearam a minha vida.

O humor é uma ferramenta para falar de coisa séria de uma forma mais descontraída?

O humor é uma ferramenta muito potente. Ele consegue tocar as pessoas, falar com o povo de uma maneira mais suave e passar mensagens, fazer as críticas necessárias, só que de uma forma mais leve. E, é claro, o humor existe para simplesmente divertir também. Por exemplo, o que a Ciência tem de engraçado? Olha, a gente conseguiu falar de Ciência, respeitando os fatos científicos, e construímos uma comédia. Você viu no BBB21? No cineminha da líder Sarah, eles riram muito, mas também choraram quando passou o filme Lucicreide Vai Pra Marte. Isso porque o humor emociona e também faz chorar. E nos toca de uma forma diferente, pois a gente se abre para ele. Você sai de um filme desses bem diferente, mesmo que seja só mais leve. O que nesses tempos de pandemia não é pouca coisa…

Você comandou o Falas Femininas. A ideia do programa foi dar voz e protagonismo a mulheres comuns?

Essas mulheres sempre tiveram suas vozes, só que muitas vezes foram silenciadas. Só demos a oportunidade de elas falarem, divulgando suas histórias para o público. A importância do Falas Femininas é muito grande! É uma janela que amplifica essas vozes. Valorizar essas mulheres em uma TV aberta tem uma força incrível. Você ilumina histórias de pessoas que têm vidas normais, mas que não conseguiram contá-las. E essas histórias podem inspirar outras mulheres a falar um pouco sobre suas vidas. Cada uma pode ser um exemplo de superação, sem precisar ser alguém famoso. Não é preciso ocupar esse espaço que é ovacionado pelo público para construir uma história inspiradora. No mundo de hoje, no novo normal, eu acho que o valor está nas histórias reais. Vamos jogar a luz, lançar mesmo os holofotes em história de mulheres que são reais!

Como você enxerga a situação dos artistas de um modo geral em consequência da pandemia?

É um momento muito difícil para todas as áreas, claro, mas os artistas e suas equipes estão sofrendo muito com a falta de trabalho. E, para levar um projeto ao público, precisamos estudar todos os rígidos e importantíssimos protocolos de segurança nos sets de filmagem, nos teatros, nos cinemas. É um aprendizado. E, naturalmente, uma preocupação. Se a gente que tem estrutura está vivendo esse momento difícil, fico imaginando o artista popular, que precisa estar no palco para sobreviver.

Você já declarou que a luta contra a gordofobia é esquecida por outros movimentos. O que quis dizer com isso?

Estamos vivendo um momento em que as lutas estão muito compartimentadas. Acho que temos que dar as mãos e lutar juntos. É claro que a dor que a gente sente só a gente sabe qual é. Mas eu acredito que precisamos abraçar as causas: as feministas, as mulheres negras, as mulheres trans, as mulheres gordas em especial. Aliás, a gordofobia ainda se apresenta latente na sociedade.

Aproveite para mandar seu recado sobre isso…

Quando você causa dor a uma pessoa pelo o que ela é esteticamente, isso pode levar à morte dessa pessoa. Espero que um dia a gordofobia seja criminalizada, assim como todo tipo de preconceito também. Meu sonho é que a gente consiga viver juntos e, mais do que respeitar, admirar quaisquer que sejam as diferenças.

Você é embaixadora do programa Vigilantes do Peso. A intenção é ‘estimular’ o emagrecimento?

Não. É estimular a alimentação saudável e balanceada.

De onde vem toda essa sua força e autoestima?

Eu vim de uma família que massageou muito minha autoestima, que me fez acreditar o quanto é bom ser quem a gente é e ser aceito do jeito que a gente é. Então, isso foi muito importante para o meu crescimento. E acho que isso me ajudou muito na vida. Esse acolhimento me fez ser quem eu sou e ter a confiança que eu tenho.

Você se estressa com os haters das redes sociais?

A internet é um campo que nos deixa muito expostos, então, quando você está exposto, você está sujeito a críticas e elogios. Existem coisas que eu escuto e acho que são críticas construtivas, mas há outras que a gente percebe que não vale nem a pena perder tempo. Eu não dou realmente muita importância a comentários que não acrescentam nada de positivo.

A cultura do cancelamento na internet faz sentido para você?

Eu não gosto, eu não acho justa essa política do cancelamento, eu acho que é um linchamento virtual. Eu não me sinto confortável em fazer parte desses apedrejadores, dessa ‘corte’ com vários ‘juízes’. Eu tenho as minhas opiniões, acredito que as pessoas erram, acertam, mas eu não acho que rede social seja o lugar em que se deva promover esse cancelamento. Sei lá, é muito forte o termo ‘cancelar alguém’, é praticamente fazer com que essa pessoa se apague do mapa, é para essa pessoa deixar de existir. É isso mesmo? A gente quer apagar uma pessoa? Num momento em que as pessoas dão tanto valor à rede social, cancelar alguém é o mesmo que tirar a vida de alguém na internet. E isso pode chegar a um ponto em que essa pessoa fique tão mal, tão deprimida, que poderá até pensar em tirar a própria vida. Eu não quero ser responsável por cancelar ninguém!

O que você faz para manter o equilíbrio do corpo e da mente? 

Eu tento dormir bem, meditar, mas, em tudo isso, tem a palavra tentar antes, porque, inclusive antes do lançamento do meu filme, as emoções ficaram à flor da pele. Sou produtora do filme também, portanto estou envolvida com a sua divulgação. São muitas responsabilidades que me deixam ansiosa. Eu realmente luto contra a ansiedade, tentando acalmar meu espírito, meditando, tentando respirar mais. Ufa!